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Casal homoafetivo registra recém-nascido com nome das duas mães em Brusque

Dupla maternidade foi sonhada e planejada pelo casal que está junto há quatro anos

Publicado em 30/07/2021 às 05:27
Atualizado em

(Foto: Arquivo pessoal)

Juntas há quatro anos, Jussara Fuck e Danúbia Voss tinham o sonho de aumentar a família. O desejo se concretizou no dia 9 de julho quando Danúbia deu à luz a uma menina.

Porém, mesmo planejando a gravidez e idealizando esse momento, o casal ainda sonhava com outra conquista. E essa vitória aconteceu no dia 20 de julho, quando, juntas, foram ao cartório para registrar a filha.

Por serem um casal homoafetivo, as mães sabiam das dificuldades que poderiam encontrar. Jussara relembra que ao chegar ao cartório a atendente perguntou a outra colega como era feito o procedimento, uma vez que nunca havia feito esse processo.

Contudo, ela conta que apesar dos minutos de espera e apreensão, o sistema gerou a opção para filiação de duas mães e, agora, a pequena Bettina Fuck Voss possui o nome das duas mães em seu registro.

“Não ter meu nome no documento da Bettina não me faz ser menos mãe da minha filha, mas é sobre coisas da vida que a gente não pode deixar de comemorar. O registro ainda é de fato algo muito pequeno perto de todos os desafios que vem a partir daí. A dupla maternidade ainda não é vista no sistema, mesmo que nossas famílias existam sim. Ainda temos que legitimar nossas conquistas, mas agradecer as pequenas também”, lembra, emocionada.


Em razão disso, as mães afirmam que a bebê foi a primeira criança recém-nascida em Brusque a ser registrada com o nome de duas mães na certidão de nascimento. O Portal da Cidade Brusque entrou em contato com o cartório de Registro Civil, o qual declara que não pode confirmar a informação, pois não possui dados levantados sobre o assunto. Segundo o cartório, seria necessário realizar um levantamento de todos os registros feitos até o momento em Brusque.

Fertilização

O casal se conheceu pelas redes sociais em outubro de 2017 e desde então passaram por alguns momentos difíceis na relação. Apesar disso, Danúbia sonhou a todo momento em ser mãe, gerar um bebê e sentir todas as etapas da gravidez.

E foi após adiar o sonho por alguns meses devido a pandemia do coronavírus, que no fim de 2020 o casal decidiu realizar a fertilização in vitro (FIV).

O procedimento, conhecido também como bebê proveta, consiste na coleta de gametas masculinos e femininos para que aconteça a fecundação em laboratório, em um ambiente controlado e, posteriormente, seja transferido para o útero da mãe.

De acordo com os dados do 13° relatório do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio) de 2020, o processo é um dos mais procurados entre os procedimentos disponíveis no mercado, devido à alta taxa de sucesso. Por isso, o casal optou pela técnica e em novembro de 2020 passaram por todo o processo e, logo na primeira tentativa, tiveram o tão esperado resultado positivo de gravidez.


“O Beta HCG foi as alturas e mandamos mensagem para a médica pra ver o que era, pois nós só víamos números. Foi aí que ela respondeu: gravidíssima, parabéns mamães. Neste momento nós rimos e choramos, comprei teste para comprovar, pois não estávamos acreditando. Mesmo subindo os dois risquinhos do teste não conseguimos acreditar”, revela.

A descoberta do sexo do bebê foi outro momento emocionante para o casal e aconteceu em uma data especial: o dia das mães. Dia 9 de maio Jussara e Danúbia descobriram que seriam mães de uma menina.

Após ter sido adiada, devido a pandemia da covid-19, a revelação contou com a presença de alguns amigos e familiares em uma praça da cidade. Segundo Danúbia, foi uma forma de não deixar o momento passar batido, em meio a tanto caos.

“Por incrível que pareça, eu sempre tive a sensação de que seria menino, inclusive antes mesmo de engravidar! Não por ser uma vontade, mas sim porque simplesmente tinha. Eu sempre me imaginei sendo mãe de menino, por isso a reação ao descobrir o sexo do bebê foi um misto de medo, surpresa e felicidade. Vi que Deus tem um propósito gigante nas nossas vidas e não poderia escolher alguém melhor para nos presentear. A nossa menina estava vindo”, lembra.


Dupla maternidade ou paternidade

Registrar Bettina com o nome das duas mães foi outra grande conquista do casal. O ato pode abrir portar para outros casais homoafetivos realizarem o sonho de ter filhos.

Apesar de conseguirem, diversos casais lutam na justiça para terem reconhecidas a dupla maternidade ou paternidade, mesmo que o Conselho Nacional da Justiça (CNJ) tenha normatizado a conduta desde 2017.

Contudo, a batalha para registrar a criança também é discutida na Câmara dos Deputados. Um Projeto de Lei apresentado em dezembro de 2020, objetiva acrescentar a lei que dispõe sobre os registros públicos, a garantia do nome do casal homoafetivo na certidão de nascimento do filho.

Conhecendo essas dificuldades é que Jussara comemora a conquista. Segundo ela, exercer um papel materno e criar uma criança já é dificultoso para muitos, mas como a dupla maternidade os obstáculos são menores.

“Temos que mostrar que todo mundo tem o direito de ser feliz. A Bettina vai ser amor, pois escolhemos com todo o amor as melhores pessoas para ficarem ao nosso lado nessa jornada. Por isso, agora vamos viver o amor da nossa vida!”, finaliza.


Fotos: arquivo pessoal

Por Vanessa Fagundes

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