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Humanizado

Falta de padronização na Rede Cegonha faz mães procurarem parto fora de Brusque

Relatos envolvem corte do cordão umbilical logo após o nascimento, uso desnecessário da aspiração e o uso de colírios não recomendados pela Rede Cegonha

Publicado em 19/03/2019 às 00:24
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(Foto: Portal da Cidade Brusque)

Mesmo contando com hospital dentro da Rede Cegonha desde 2013, moradoras de Brusque tem optado por buscar os serviços de parto em outros municípios da região. O motivo é a falta de padronização das equipes em seguir os procedimentos indicados pela iniciativa.

Entre as queixas mais comuns está o desrespeito à orientação de que o recém nascido que não apresente problemas de saúde seja mantido em contato pele a pele entre mãe e bebê na primeira hora de vida. O ponto está entre as práticas com indicativo de que devem ser estimuladas no manual prático do programa.


Além dele, situações como o corte do cordão umbilical logo após o nascimento, uso desnecessário da prática de aspiração e o uso de colírios não recomendados pela Rede Cegonha também estão entre as reclamações recorrentes. O contato entre as gestantes tem sido fundamental para a escolha de dar sequência nos procedimentos em outros hospitais da região.


Para Blumenau

Há dois anos, a troca de experiência foi fundamental para que Mônica Reis, 29 anos, optasse pelo parto da filha em Blumenau, mesmo com todas as dificuldades que isso implicaria. “Uma das coisas ruins da experiência foi ter tido que me deslocar em pleno de parto”.


Mesmo com o fator distância, ela acredita que a alternativa foi uma boa escolha. De acordo com ela, na época, o mesmo serviço na cidade estava longe do que desejava, tanto no tratamento pessoal, quanto os relatos de procedimentos com os bebês. Os relatos de casos de violência obstétrica também pesaram  no momento da escolha. “Não é nada invasivo a forma que eles conduzem”, relata em referência ao serviço recebido em Blumenau.

Em contato com mães que passaram por procedimentos no Hospital Azambuja, ela afirma ter ouvido relatos variados quanto aos procedimentos com a gestante. De acordo com Mônica, as experiências variam dependendo da equipe de plantão que cada uma atendida, mas que a maioria dos casos foram adotados procedimentos diferentes dos que ela recebeu.


Processos diferentes

Situação semelhante à relatada por Mônica levou Daiane Vieira Franco Cavichioli a buscar os serviços nem Itajaí para o parto da filha, em novembro. Segundo ela, o principal motivo foram os relatos de mães que permaneceram na cidade e relataram que os procedimentos nem sempre eram seguidos conforme a orientação da rede.


“Quando eu relato meu parto para minhas amigas, todas afirmam querer passar por momentos parecidos”, afirma. E detalha: “Nossa filha não precisou ser aspirada, nós três ficamos juntos o tempo todo e a única vez a minha filha saiu de perto de mim, foi para receber as vacinas, porém, foi no colo do próprio pai”.


No seu caso, a criança não teve o cordão umbilical cortado até que terminasse a pulsação. O procedimento foi feito pelo próprio marido dela, um desejo do casal. Uma amiga que passou por trabalho de parto em 2017, afirma, relatou um processo para o parto mais apressado e com uma pressão para que todos os procedimentos terminassem mais rápido possível. “Ela disse que, no final, já não tinha mais forças, por ter que fazer força nos momentos errados da contração”.


Humanização

Para a médica pediatra, Flávia Schaidhauer, a humanização dos partos é uma tendência e que seus protocolos estimulam a evitar o excesso de estímulos ao bebê logo após seu nascimento. De acordo com a especialista, na metodologia, os procedimentos podem ser adotados em todos os casos em que não se constata problemas de saúde da criança logo após seu nascimento. “As pessoas estão se dando conta que não é benéfico tirar ele de forma abrupta”

Pelas estimativas de Flávia, menos de 5% dos recém nascidos vão precisar passar por algum tipo de procedimento logo após o parto. Segundo ela, nos casos que se enquadram neste tipo de parto, o ideal é se respeitar a vontade da família e realizar os procedimentos complementares ao longo do dia.

A mudança de procedimentos, afirma, tem pouco impacto na atividade dos profissionais envolvidos. Apesar de seus benefícios, ela indica a resistência de equipes mais antigas e a a falta de apoio de algumas direções para que os procedimentos se tornem mais comuns.

Em adaptação

Membro da rede cegonha desde 2013, o Hospital Azambuja realiza cerca de 160 partos mensais. Segundo a responsável da equipe de enfermagem, irmã Neusa Claudete dos Santos, muitos dos procedimentos envolvem mudanças culturais na equipe e a unidade está em processo de adaptação.


Desde lá, o hospital tem passado por auditorias e adaptações para se enquadrar nas boas práticas para o parto humanizado, segundo ela. Somente em 2016 passaram a receber os protocolos sobre as práticas e planejam adequações físicas para melhorar os atendimentos. 


Hoje a equipe conta com quatro enfermeiras obstetras e possuí uma quinta profissional em formação, além de cerca de 10 médicos com especialização na área. Quanto aos relatos feitos pelas mães, ela atribui a falta de padronização à dificuldade de mudança de procedimentos em servidores mais tradicionais do local, mas que todos os casos são orientados por um pediatra.

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