Portal da Cidade Brusque

Opinião

Coronavírus: informar, sim. Tornar um espetáculo, jamais!

Portal da Cidade Brusque se posiciona a respeito de recentes publicações disseminadas em um meio de comunicação da cidade

Publicado em 23/03/2020 às 03:56

(Foto: Portal da Cidade Brusque)

Na década de 90, o programa Aqui Agora, do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), foi um bom exemplo do que considera-se, comumente, sensacionalismo jornalístico. No ano de 1993, o informativo chegou a transmitir, ao vivo, o suicídio de uma adolescente que se jogou de um prédio em São Paulo.

Se esse tipo de coisa não causava tanto espanto à época, é preciso lembrar: não estamos mais na década de 1990. As coisas evoluíram, e o jornalismo assumiu um papel preponderante na sociedade.

Com todas as fake news e desinformações correndo soltas, os veículos de comunicação, que tem o dever de passar credibilidade, precisam, mais do que nunca, assumir uma postura responsável e firme diante de seus leitores. Principalmente diante dessa crise sem precedentes que vivemos por conta da expansão do coronavírus em todo o mundo. E é por conta disso que Portal da Cidade Brusque se posiciona neste momento.

Durante a última semana, um portal de notícias da cidade publicou, inclusive com a famosa tag “Exclusivo”, uma reportagem acerca da internação de um jovem que teria “fortes suspeitas” de contaminação com o novo coronavírus. A vítima, de 37 anos, acabou falecendo no Hospital Azambuja.

Já na noite de domingo (22), a Prefeitura de Brusque, por meio de nota oficial, descartou a contaminação por Covid 19 no paciente, que tinha comorbidades como pneumonia e insuficiência renal. Mas o estrago já estava feito.

A espetaculização da informação inicial confundiu a opinião pública de tal forma, que os leitores simplesmente passaram a não acreditar no resultado negativo para a contaminação do coronavírus, dando margem à criação de teorias conspiratórias. O fato é que Brusque AINDA não tem casos registrados para a doença que assola o mundo.

Não sejamos hipócritas: a caça por cliques é natural de todos - repetimos: todos! - os meios de comunicação minimamente situados no meio digital. Porém, cabe a cada um atrair o seu leitor de maneira responsável e consciente, sobretudo neste momento de exceção. O contrário disso não é nada mais do que um desserviço para a comunidade.

No afã de se trazer uma informação exclusiva para seus leitores, o meio de comunicação falhou em não deixar claro que “fortes indícios” não significa “certamente contaminado”. Falhou, também, agora por uma questão humana, em colocar a tag “Exclusivo”, como se houvesse um prazer editorial por trás daquela tragédia pessoal e familiar.

O jornalismo da CNN Brasil, que estreou no último dia 15 de março, nos trouxe uma nova visão além do tradicional lead (onde, quando, quem, como e por quê?). Convencionou-se chamar de A Tríade: precisamos publicar? Devemos publicar? Podemos publicar? Perguntas que, se feitas, poderiam ter evitado muita confusão na cabeça de pessoas que já quase não conseguem diferenciar o que é fake e o que é realidade, tamanha a torrente de notícias que chegam à todo o momento sobre a pandemia.


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