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DIFICULDADES

Em meio a pandemia noivos e empresas lutam para manter sonhos e negócios vivos

Há casais já tiveram a data remarcada três vezes. Empresários continuam com dificuldades para atuar, mesmo com as poucas flexibilizações liberadas

Publicado em 11/05/2021 às 06:25
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(Foto: Ilustração)

Muitos casais se planejaram durante anos para realizar um grande sonho: a cerimônia de casamento. Porém, passados mais de um ano desde o início da pandemia da covid-19, o cenário ainda é de incertezas para aqueles que desejam realizar este sonho e que em diversos casos acabou culminando no adiamento ou cancelamento do evento.

Há quem já estava com a data marcada para se casar ainda em 2020 ou esperou o primeiro ano de pandemia passar para se programar e celebrar ainda em 2021. Como é o caso da diretora administrativa e operacional, Thaís Caroline Pöpper Gomes, que já teve mudar a programação do casamento três vezes por causa da pandemia.

No início, a cerimônia estava prevista para ocorrer em 17 de outubro de 2020, mas depois foi alterada para 27 de fevereiro de 2021. Contudo, três dias antes da celebração, o horário teve que ser alterado do período da noite para o dia.

“Eu estava voltando do trabalho quando recebi a informação que o novo decreto autorizava realizar casamentos somente entre às 6h e 00h. Eu entrei em choque, fui chorando até em casa”, desabafou.

Na busca por alternativas, o horário da cerimônia foi alterado mesmo faltando poucos dias para a celebração. Com ajuda, foi possível conversar com os fornecedores, avisar os convidados e mudar o horário do casamento.

Adiamento da festa 1 dia antes da data

Contudo, novas medidas foram impostas em 26 de fevereiro e novamente, faltando um dia, a festa de casamento foi adiada. De acordo com o novo decreto, Santa Catarina teria dois finais de semana de lockdown.

“Quando eu acordei na sexta-feira, antes do casamento, eu recebi uma mensagem da minha irmã que dizia pra eu ter força e não desistir, mas foi nesse momento que eu entrei em desespero. Eu quis ser forte, mas não consegui. Meu coração estava doendo demais, porque ao mesmo tempo que estava muito triste também estava me sentindo egoísta, mas eu não podia me sentir assim até porque era o meu sonho”, revelou.

A nova data está marcada para 22 de maio e Thaís espera que, agora, o casamento aconteça.

“A minha expectativa é que agora a festa aconteça, mas também mantendo o pé firme no chão, já que é tudo muito imprevisível, eu espero que o novo decreto que será publicado, dias antes da cerimônia, seja redigido para que o meu casamento ocorra. Se for mantido desta forma, eu acredito que não terá possibilidade de fazer o casamento”, disse.

A noiva pensou em cancelar a festa, no momento em que a celebração foi adiada um dia antes do casamento. Porém, com o apoio de amigos e familiares, ela decidiu manter a festividade.

Assim como Thaís, a manicure, Franciele Schlindwein Laurentino, planejava a festa de casamento para 15 de maio deste ano. Mas, com o avanço da pandemia, os planos tiveram que ser adiados para março de 2022.

“No começo eu fiquei bem triste, pois já estava tudo marcado e com todos os convites entregues. Tinha a esperança de que ia acontecer, já que no início do ano alguns casamentos aconteceram”, explicou.

Porém, acompanhando a alta no número de casos e mortes, ela resolveu esperar até o fim do mês de abril para decidir se o casamento aconteceria ou não. Durante este período, ela percebeu que havia outra situação que poderia acontecer no dia da celebração.

“Os convidados também começaram a falar que estavam com medo de ir, mesmo que algumas já estivessem vacinadas. Fiquei com medo de manter a data, realizar a festa e a maioria das pessoas não irem”, revelou.

Franciele diz que já pensou em cancelar tudo. Ela até cogitou em fazer uma celebração mais íntima, para os pais e padrinhos. Porém, no fim, escolheu permanecer com a festividade e apenas prorrogar, já que casar era seu sonho.

A decisão de adiar o casamento vai além de interromper um sonho. As noivas ainda enfrentam o desafio de conseguir conciliar uma nova data com todos os fornecedores envolvidos na celebração.

Além de ter que informar todos os convidados sobre a mudança, é preciso ajustar serviços como buffet, músicos, fotógrafos, local da cerimônia, vestidos, decorações entre outros serviços importantes realizados na celebração.

Setor de eventos no Brasil

O setor de eventos movimentava anualmente, antes da pandemia, cerca de R$ 250 milhões em eventos corporativos e R$ 17 bilhões em eventos socais. Entretanto, após mais de um ano de pandemia esta realidade mudou completamente.

De acordo com a Associação Brasileira de Eventos (Abrafesta) só 8% dos eventos estão operando, 32% mudaram o modelo do negócio, 60% pararam completamente. Ainda de acordo com a entidade grande parte dos profissionais do setor migraram para outros serviços ou profissão e há queda de faturamento de 98% do setor em território nacional.

Em Brusque, as empresas adotaram estratégias com o intuito de amenizar as consequências das paralisações. Durante a pandemia, algumas empresas do setor de eventos se uniram e fundaram o Núcleo de Eventos dentro da Associação Empresarial de Brusque (ACIBr), na qual atualmente dez empresas fazem parte.

Através de reuniões, o grupo busca superar os obstáculos que o setor vem enfrentando em um pouco mais de um ano de pandemia.

Dificuldades de empresários do ramo

Em uma das últimas reuniões, o grupo solicitou a secretária de Vigilância em Saúde, Ariane Fisher e ao Vereador Alessandro Simas, os quais estiveram presentes, que os decretos fossem mais claros, em relação as atividades autorizadas e proibidas durante o período vigente.

De acordo com a proprietária da empresa Inspire Filmes, que produz vídeos de casamentos, Daiane Rossano, o objetivo é entender o que está liberado neste momento.

“As noivas nos procuram acreditando que os casamentos podem ser realizados. Porém, explicamos para elas que ainda está liberado a realização de festividades. Isso acaba virando um telefone sem fio. Fica difícil explicar e com diversos ruídos de comunicação. Até porque existem alguns lugares que acabam fazendo eventos e muitas vezes até fora do que está fora do permitido”, desabafou.

Daiane esclarece ainda que segundo o decreto em vigência, publicado na sexta-feira, 30 de abril, e que vale até o dia 17 de maio, ainda é difícil realizar as festividades de casamentos.

“Com este último decreto para nós enquanto fornecedores, para casamentos, isso ainda está muito complicado. Nós não conseguimos realizar, ao menos que seja um evento pequeno”, revelou.

Na sua empresa, em um pouco mais de um ano de pandemia, 28 casamentos estavam marcados, porém não foram realizados. Com a proibição de grandes eventos ainda em 2021, muitos clientes acabaram remarcando as celebrações para 2022.

“Esses casamentos não aconteceram ano passado e possivelmente não acontecerão esse ano. Assim, todos os clientes estão querendo remarcar para o ano que vem. Porém, vai ser muito difícil encaixar todos. Nós deixamos de faturar por quase três anos”, explica.

Ainda de acordo com Daiane, em abril de 2020 eventos não aconteceram, assim como não ocorreu em 2021. Desta forma, em 2022 ela terá que apenas cumprir com as celebrações remarcadas, sem poder atender novos clientes. “Eu só estarei cumprindo contratos de clientes lá de 2019 muitas vezes”, disse.

Consequências das restrições

A situação de incertezas e dúvidas se repete com profissionais de outras atividades. Além das dificuldades na execução de eventos, devido às restrições, as empresas também lutam contra o baixo faturamento e consequentemente contra as demissões.

De acordo com o a Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape), de fevereiro de 2020 a janeiro de 2021, 400 mil trabalhadores do setor de eventos foram demitidos no país.

Este é o caso do proprietário da empresa Profan Brasil, Claudio Muller, que trabalha com sonorização, iluminação e estruturas de eventos particulares e corporativos. Segundo o empresário, após o fim do auxílio emergencial em 2020 ele teve que realizar demissões.

“No primeiro momento tivemos a ajuda do governo federal que ajudou a manter os empregos, mas o auxílio terminou em dezembro e as empresas do nosso ramo, com faturamento quase zero, foram obrigadas a demitir, coisa que não queríamos, pois é muito difícil montar uma boa equipe”, disse.

Muller também destaca que muitas pessoas do setor atualmente vivem com a ajuda de familiares, uma vez que não possuem uma fonte de renda. Por isso, ele defende a flexibilização do setor com a realização de eventos coorporativos, como convecções e palestras, que podem ser realizados neste momento, mesmo com restrições.

“Se podemos fazer eventos corporativos com um número reduzido de pessoas e com todos os protocolos necessários, muitas empresas também conseguiriam manter seus funcionários se outros tipos de eventos fossem liberados”, disse.

Situações como a de Daiane e de Claudio exemplificam as dificuldades de empresários do setor por todo o país. Porém, muitos acreditam que diante do avanço da vacinação, já é possível planejar a volta dos eventos com segurança.


Por Vanessa Fagundes

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