Cerca de 200 educadores
estiveram reunidos no dia 7 de fevereiro, no auditório paroquial São Luís
Gonzaga, para participar de uma formação, promovida pelo Núcleo das
Instituições Educacionais de Brusque, vinculado à ACIBr – Associação
Empresarial de Brusque.
‘Cutting no contexto
educacional’ foi o tema abordado pelo palestrante Mário Augusto Eccher. O
psicólogo e psicanalista explicou o significado da palavra inglesa Cutting, que
significa ‘corte’ e que no contexto educacional, consiste no ato de autolesão
ou automutilação, por parte de crianças e adolescentes em fase escolar. “O
Cutting é um problema real e precisamos conhecer para melhor acolher. Entre as
formas de autolesão estão furar-se com agulhas, canetas, ponta de compasso,
lapiseira ou pregos; cortar-se com estilete ou caco de vidro; apertar ou
reabrir feridas; queimar-se com cigarro; bater-se ou esmurrar-se; arrancar
cabelos, roer unhas até sangrar; e dar socos nas paredes. E os maiores motivos
são alívio emocional, vontade de morrer, culpa e autopunição. Hoje, temos
crianças extremamente inteligentes, que falam alguns idiomas, fazem uso da
tecnologia melhor que nós adultos, mas são extremamente frágeis emocionalmente.
Estamos educando nossas crianças para o futuro, mas estamos esquecendo que
existe um déficit no presente. As crianças não sabem lidar com perdas e
frustrações, mas precisam aprender isso, e nós precisamos ajudá-las”, declarou
Mário.
Há cinco meses, o especialista
está desenvolvendo em Brusque, um projeto que visa identificar e ajudar os
adolescentes que enfrentam o problema. “Nos trabalhos que temos feito nas
escolas, identificamos um número alto de crianças que se auto lesionam. E havia
não uma omissão, mas um desconhecimento a respeito. Inicialmente, pareciam
casos isolados, mas quando começamos a agregar os dados, se tornou alarmante. E
o objetivo dessa conversa com educadores, é fazer com que os profissionais
entendam que existe esse problema, que ele é real e não é algo passageiro. Já
houveram casos que resultaram em suicídio e para evitar que isso volte a
acontecer, temos que conscientizar e buscar a união dos professores, que é quem
passa grande parte do tempo com as crianças, até mesmo, mais que os pais. Por
isso, o professor tem que ser amigo e procurar entender o sentimento dessas
crianças. Sem dúvida, temos casos de Cutting em todas as escolas, e a Saúde não
consegue agir de maneira isolada. É preciso a ajuda da Educação,
principalmente, no sentido de prevenir casos extremos. A família, a escola e os
amigos devem estar alinhados para criar uma rede de atuação”, descreveu o
palestrante.
Parceria
O secretário municipal de
Saúde, Humberto Fornari, também participou do evento e reforçou a importância
de os educadores agirem em parceria com os profissionais da Saúde. “Acredito
muito nesse trabalho em comum e precisamos desenvolver mais encontros como esse
no sentido de orientar e, principalmente, trazer conhecimento aos educadores,
que são os grandes formadores, que têm contato direto com as crianças e também
com os pais. Precisamos pensar e atuar de maneira preventiva. Hoje, cerca de
10% da população na faixa etária de 12 a 16 anos, está sofrendo com esse tipo
de problema, e os pais e professores não estão tendo consciência disso. Então,
é o momento de trazer à tona esse grande problema de saúde pública. O Município
possui uma equipe de psicólogos capacitados para esse tipo de atendimento,
também tem a estrutura dos CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial), estamos
com um projeto para abertura do CAPS infantil, e a contratação de mais médicos
psiquiatras, para que a população seja melhor atendida. Porém, para realizar
esse trabalho de prevenção, é preciso ter um olhar voltado para essa realidade,
e identificar quem precisa de ajuda”, salientou Dr. Humberto.
O médico, juntamente com o
palestrante, a diretora de Saúde Mental do Município, Alícia Fagundes, e a
professora do curso de Psicologia da Unifebe, Graziele Rosvadoski da Silva,
participaram de uma mesa redonda após a palestra, e responderam questionamentos
dos educadores, esclarecendo vários pontos. Mário sugeriu aos professores,
abrir rodas de conversas com pais e colegas de trabalho, bem como, repensar o
relacionamento com seus alunos e o quanto têm preparado seus alunos para o
futuro. “É importante observar sem ser percebido, entender o contexto para
promover uma aproximação, acolher sem julgar, e nunca expor a criança”, frisou
o psicólogo.
A professora de inglês e
português, Fabiana Boos Vasquez, esteve entre os profissionais presentes na
formação e avaliou o encontro como positivo. “Ter a oportunidade de ouvir e
debater sobre esse assunto, faz com que fiquemos mais atentos a essa realidade.
Infelizmente ainda existe muito preconceito, e o professor precisa se preparar
cada vez mais, para ter a sensibilidade de identificar o problema e o
equilíbrio emocional para saber lidar e ajudar, fazendo os encaminhamentos
corretos”, considerou Fabiana.
O vice coordenador do Núcleo
de Instituições Educacionais, Edemar Luiz Aléssio, observou que a entidade tem
buscado promover ações para ajudar os profissionais que trabalham na Educação.
“É fundamental debater esse tema, pois talvez, nossa cultura ainda tem nos
impedido de observar, ou dar a devida atenção para situações extremas por qual
passam algumas crianças e adolescentes no nosso município. Esse encontro
mostrou que precisamos nos aproximar mais desses estudantes para tentar
ajudá-los. A família precisa estar presente, mas a escola também pode
contribuir, e tentar mediar, para evitar consequências maiores. Cuidar dessas
crianças é papel fundamental de pais, educadores e profissionais da saúde.
Portanto, a ideia é ampliar o conhecimento e contribuir para que esse trabalho
de diagnóstico e prevenção possa ser mais firme e tenha continuidade. Estamos
dando o primeiro passo e devemos fazer outras abordagens, principalmente, com
os pais também”, relatou Aléssio.