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Educação

‘Cutting no contexto educacional’ é tema de formação para educadores

Evento promovido pelo Núcleo de Instituições Educacionais de Brusque, chamou atenção para cuidado com a saúde mental de crianças e adolescentes

Publicado em 12/02/2019 às 05:38

(Foto: Divulgação/Assessoria de imprensa ACIBr)

Cerca de 200 educadores estiveram reunidos no dia 7 de fevereiro, no auditório paroquial São Luís Gonzaga, para participar de uma formação, promovida pelo Núcleo das Instituições Educacionais de Brusque, vinculado à ACIBr – Associação Empresarial de Brusque.

‘Cutting no contexto educacional’ foi o tema abordado pelo palestrante Mário Augusto Eccher. O psicólogo e psicanalista explicou o significado da palavra inglesa Cutting, que significa ‘corte’ e que no contexto educacional, consiste no ato de autolesão ou automutilação, por parte de crianças e adolescentes em fase escolar. “O Cutting é um problema real e precisamos conhecer para melhor acolher. Entre as formas de autolesão estão furar-se com agulhas, canetas, ponta de compasso, lapiseira ou pregos; cortar-se com estilete ou caco de vidro; apertar ou reabrir feridas; queimar-se com cigarro; bater-se ou esmurrar-se; arrancar cabelos, roer unhas até sangrar; e dar socos nas paredes. E os maiores motivos são alívio emocional, vontade de morrer, culpa e autopunição. Hoje, temos crianças extremamente inteligentes, que falam alguns idiomas, fazem uso da tecnologia melhor que nós adultos, mas são extremamente frágeis emocionalmente. Estamos educando nossas crianças para o futuro, mas estamos esquecendo que existe um déficit no presente. As crianças não sabem lidar com perdas e frustrações, mas precisam aprender isso, e nós precisamos ajudá-las”, declarou Mário.

Há cinco meses, o especialista está desenvolvendo em Brusque, um projeto que visa identificar e ajudar os adolescentes que enfrentam o problema. “Nos trabalhos que temos feito nas escolas, identificamos um número alto de crianças que se auto lesionam. E havia não uma omissão, mas um desconhecimento a respeito. Inicialmente, pareciam casos isolados, mas quando começamos a agregar os dados, se tornou alarmante. E o objetivo dessa conversa com educadores, é fazer com que os profissionais entendam que existe esse problema, que ele é real e não é algo passageiro. Já houveram casos que resultaram em suicídio e para evitar que isso volte a acontecer, temos que conscientizar e buscar a união dos professores, que é quem passa grande parte do tempo com as crianças, até mesmo, mais que os pais. Por isso, o professor tem que ser amigo e procurar entender o sentimento dessas crianças. Sem dúvida, temos casos de Cutting em todas as escolas, e a Saúde não consegue agir de maneira isolada. É preciso a ajuda da Educação, principalmente, no sentido de prevenir casos extremos. A família, a escola e os amigos devem estar alinhados para criar uma rede de atuação”, descreveu o palestrante.

 

Parceria

O secretário municipal de Saúde, Humberto Fornari, também participou do evento e reforçou a importância de os educadores agirem em parceria com os profissionais da Saúde. “Acredito muito nesse trabalho em comum e precisamos desenvolver mais encontros como esse no sentido de orientar e, principalmente, trazer conhecimento aos educadores, que são os grandes formadores, que têm contato direto com as crianças e também com os pais. Precisamos pensar e atuar de maneira preventiva. Hoje, cerca de 10% da população na faixa etária de 12 a 16 anos, está sofrendo com esse tipo de problema, e os pais e professores não estão tendo consciência disso. Então, é o momento de trazer à tona esse grande problema de saúde pública. O Município possui uma equipe de psicólogos capacitados para esse tipo de atendimento, também tem a estrutura dos CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial), estamos com um projeto para abertura do CAPS infantil, e a contratação de mais médicos psiquiatras, para que a população seja melhor atendida. Porém, para realizar esse trabalho de prevenção, é preciso ter um olhar voltado para essa realidade, e identificar quem precisa de ajuda”, salientou Dr. Humberto.

O médico, juntamente com o palestrante, a diretora de Saúde Mental do Município, Alícia Fagundes, e a professora do curso de Psicologia da Unifebe, Graziele Rosvadoski da Silva, participaram de uma mesa redonda após a palestra, e responderam questionamentos dos educadores, esclarecendo vários pontos. Mário sugeriu aos professores, abrir rodas de conversas com pais e colegas de trabalho, bem como, repensar o relacionamento com seus alunos e o quanto têm preparado seus alunos para o futuro. “É importante observar sem ser percebido, entender o contexto para promover uma aproximação, acolher sem julgar, e nunca expor a criança”, frisou o psicólogo.

A professora de inglês e português, Fabiana Boos Vasquez, esteve entre os profissionais presentes na formação e avaliou o encontro como positivo. “Ter a oportunidade de ouvir e debater sobre esse assunto, faz com que fiquemos mais atentos a essa realidade. Infelizmente ainda existe muito preconceito, e o professor precisa se preparar cada vez mais, para ter a sensibilidade de identificar o problema e o equilíbrio emocional para saber lidar e ajudar, fazendo os encaminhamentos corretos”, considerou Fabiana.

O vice coordenador do Núcleo de Instituições Educacionais, Edemar Luiz Aléssio, observou que a entidade tem buscado promover ações para ajudar os profissionais que trabalham na Educação. “É fundamental debater esse tema, pois talvez, nossa cultura ainda tem nos impedido de observar, ou dar a devida atenção para situações extremas por qual passam algumas crianças e adolescentes no nosso município. Esse encontro mostrou que precisamos nos aproximar mais desses estudantes para tentar ajudá-los. A família precisa estar presente, mas a escola também pode contribuir, e tentar mediar, para evitar consequências maiores. Cuidar dessas crianças é papel fundamental de pais, educadores e profissionais da saúde. Portanto, a ideia é ampliar o conhecimento e contribuir para que esse trabalho de diagnóstico e prevenção possa ser mais firme e tenha continuidade. Estamos dando o primeiro passo e devemos fazer outras abordagens, principalmente, com os pais também”, relatou Aléssio.  

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