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Mais de 20 anos de voluntariado; Conheça a brusquense que se dedica a amparar mulheres durante o período da amamentação

Fundadora da ONG Anjos do Peito, Angelina atende mulheres com dúvidas e problemas relativos ao aleitamento. Com o dinheiro do próprio bolso, muita vontade e amor, ela já ajudou centenas de mães e seus bebês.

Publicado em 16/06/2017 às 03:08

Foto: Portal da Cidade Brusque

Amamentar faz parte das delícias da maternidade. É o momento que a mãe tem juntinho de seu bebê, oferecendo-lhe o alimento mais completo que existe para um crescimento saudável. Mas muitas mães não chegaram a viver o processo da amamentação, e para tantas outras foi ou é um período difícil e doloroso devido à falta de leite, mastite, dores e outros problemas que dificultam ou até impedem de conseguir alimentar o filho com o próprio leite.

E quem diria que alguém, um dia, iria se comover com a realidade dos bebês que não conseguiam desfrutar da amamentação? A brusquense Angelina Lúcia Tarter não só ficou comovida, como arregaçou as mangas para mudar a realidade de muitas mães e seus filhos.

Há mais de 20 anos Angelina se dedica quase que integralmente a ensinar, acompanhar e amparar mães que têm dificuldade para amamentar. Centenas de mães já passaram pelos cuidados de Angelina – mulher que tem muita história para contar. E hoje nós é que contamos um pouco da história de Angelina Tarter.

Angelina é responsável por ter mobilizado centenas de mulheres em Brusque em prol da doação do leite materno. Ela já amparou e ainda ampara muitas mães que têm dificuldades para amamentar. E é, inclusive, responsável pela vida mais saudável de inúmeras crianças que não se adaptavam a outro leite se não o materno. Com tanto amor e dedicação ao trabalho voluntário, Angelina criou a ONG “Anjos do Peito”, que visa apoiar, ensinar e conduzir as mamães durante a amamentação.

“Nasci para isso”
A vida toda Angelina trabalhou junto de mamães e crianças. O primeiro emprego, aos 14 anos de idade, foi de babá. No início da vida adulta trabalhou no berçário do hospital Evangélico, e já apaixonada pela área foi estudar Enfermagem.

Durante a faculdade, trabalhou na sala de parto do mesmo hospital e quando completou os estudos assumiu a chefia do berçário. Nesta época, ainda muito jovem, Angelina já acompanhava inúmeras histórias de mães que não conseguiam amamentar seus filhos. A vontade de mudar a realidade daquelas mulheres e crianças só aumentava.

“Acho que nasci para fazer isso. A vida sempre foi me levando para caminhos que me faziam ficar perto de mamães e crianças”, conta com um sorriso de satisfação.

Em 1998, Angelina foi chamada para trabalhar na clínica Uni Duni Tê, onde realizava testes do pezinho. Ali, ela conheceu novas histórias de mães que não conseguiam amamentar. “Foi aí que me deu um ‘clique’ de fazer algo, de trabalhar com a amamentação. Porque eu via que muitas mães necessitavam de apoio”.

A ideia inicial era usar as sextas-feiras, dias em que folgava do trabalho na clínica, para atender as mães que precisavam de ajuda durante o aleitamento. Ela aguardava ansiosa, em uma sala da clínica, a chegada das mães. Mas elas não vinham. “É difícil mesmo uma mãe querer sair de casa pouco tempo depois do parto, se está com dores, ainda mais devido aos problemas da amamentação. Então resolvi pegar o meu carro e ir até elas”.

Com o endereço as mulheres em mãos, Angelina começou a visitá-las, pagando do próprio bolso o combustível que utilizava. Em alguns casos, ela até comprava medicamentos necessários, quando os problemas da amamentação eram mais sérios.

O trabalho voluntário começou a ganhar destaque à medida que mais mulheres iam sendo atendidas. Se uma mãe que já tinha recebido todo o amparo durante a amamentação sabia de outra que passava por problemas parecidos, o nome de Angelina vinha à tona.

Em 2002, Angelina começou a trabalhar em uma Unidade Básica de Saúde. Mais perto da administração municipal, ela tentou fazer engatar um programa de incentivo a amamentação e de amparo às mães. Porém, a vontade ficou mesmo só na vontade. Sem respaldo do governo, o jeito foi continuar atuando do jeito que conseguia; sozinha e com muita dedicação.

“Meu anjo do peito chegou”
Cada vez mais atuante no trabalho voluntário, Angelina ganhou diversos apelidos que a identificavam como a pessoa que cuidava das mães e bebês. Ela conta que uma das frases que mais ouvia quando chegava na casa das mães era “meu anjo do peito chegou para me ajudar”.

“’Anjos do peito’ são as mulheres que amamentam, são os bebês amamentados e são as pessoas que ajudam as mulheres a amamentar. Por isso escolhi esse nome”.

O trabalho ficou cada vez maior e mais sério, e com uma rede de contatos grande, Angelina passou a incentivar a doação de leite. Com muita persistência, a coleta de leite foi ficando cada vez mais frequente.

Abre aspas                                        
Apesar da demanda e de muitos pedidos de Angelina, Brusque ainda não tem um banco de leite. Por isso, todo o material coletado de mulheres doadoras, é enviado a Blumenau, para ser analisado e pasteurizado, para, então, voltar a Brusque e ser destinado às crianças.

Mães que agradecem
Pelos cuidados de Angelina já passaram muitas mães. Algumas que tinham pouca informação quanto a amamentação. Outras tinham dores, ou não produziam leite. Com tantas mulheres com questões em comum, Angelina criou um grupo no WhatsApp, onde as mamães de primeira viagem, ou não, trocam informações diárias.

“É muita mulher que procura ajuda, e quando algumas delas surgem com uma dúvida ou outra, elas mesmas conseguem se ajudar no grupo”.

Uma das participantes do grupo do WhatsApp é Fernanda Belli Mafra. Mãe de Emily, hoje com sete meses, Fernanda passou por algumas dificuldades para amamentar logo nos primeiros dias após o nascimento da filha.

Ela já tinha ouvido falar do trabalho de Angelina e do grupo Anjos do Peito, e não hesitou em pedir ajuda. “Comecei a sentir dores para amamentar e tinha medo de ter rachaduras no seio. Por isso, corri pedir a ajuda. Durante cerca de três semanas recebi apoio, dicas e informações que me ajudaram muito na hora de amamentar”.

A primeira coisa a ser corrigida foi a pega – quando a boca do bebê não encaixa corretamente no bico do seio. E a partir dali, novas dicas foram dadas. “Depois disso, não tive mais nenhum problema para amamentar e não precisei mais do socorro”, conta Fernanda. Ela ainda faz parte do grupo das mamães no WhatsApp e compartilha o que já aprendeu com Angelina.

Trabalho cada vez mais reconhecido
Angelina conta, tímida, que muitos médicos incentivam as mães a procurarem a Anjos do Peito, para que obtenham mais informações e amparo durante o aleitamento. “Não é uma atividade rápida. Tem todo o processo de estimular a produção do leite, ensinar que a mãe deve manter o bebê em uma posição confortável, fazer aquele momento ser prazeroso, além de lidar com questões mais difíceis da amamentação que ocorre vez ou outra. Para isso a gente tem muita paciência”, tenta explicar.

Em 2010, o projeto Anjos do Peito foi registrado como ONG e foi batizado de Instituto Catarinense Anjos do Peito. Hoje, está situado na rua Azambuja, nº 789. Hoje, a ONG atende cerca de 130 mulheres por mês.

Para saber mais sobre a Anjos do Peito, acesse o site ou a página no Facebook.

 

 

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