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O lateral Jersinho: do início promissor no Brusque até a aposentadoria precoce

Comandante quadricolor morou nas arquibancadas do Augusto Bauer e foi a primeira venda da história do clube. Lesão abreviou a carreira

Publicado em 27/10/2020 às 06:59
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(Foto: Arquivo pessoal Fabrício Wippel)

Jerson Testoni caminha pelos corredores do estádio Augusto Bauer com a familiaridade de quem já teve o estádio como lar. Simpático e despretensioso, ele cumprimenta cada um que cruza seu caminho até a entrevista com a mesma simpatia da época de jogador.

Bruscão no caminho

A infância em Gaspar, município vizinho, não foi fácil. De família humilde, ele começou a dar seus primeiros chutes na bola desde cedo. O Blumenau Esporte Clube e o Tupi foram as primeiras equipes a contarem com os serviços do lateral, nas categorias de base. Aos 17 anos, porém, os destinos de Brusque Futebol Clube e Jersinho se cruzaram pela primeira vez. “Cheguei e já fui fazer um teste para o time profissional. O treinador era o Joceli dos Santos”, relembra. Mas era a última ficha que Jerson Testoni apostava em sua carreira profissional. Ele chegou a cogitar desistir do sonho de ser atleta e realizou uma entrevista de emprego em uma estamparia. “Ou eu virava jogador ou eu ia parar, ia seguir jogando apenas no amador”.


Jersinho na época de Tupi de Gaspar. Ele é o quinto abaixado da esquerda para a direita. 

Aprovado! 

O teste foi realizado junto de seu irmão, o zagueiro Luciano. Na primeira prova, no gramado do estádio do Paysandu, Jersinho não teve o melhor dos desempenhos. Porém, em Guabiruba, alguns dias depois, foi na relva da Sociedade Olaria, que o lateral que chutava com as duas pernas e atuava nos dois lados do gramado, mudou seu destino para sempre. Assim, o Tupi de Gaspar emprestava seu jovem talento para o Quadricolor. Em 1997, ele chegou a entrar em um jogo na primeira equipe do Brusque, porém, no ano seguinte, voltou para a base. Era preciso adquirir mais experiência. Nessa época, ele morava embaixo das mesmas arquibancadas que hoje o aplaudem e o ovacionam como um dos técnicos mais influentes e vitoriosos da história do clube. Voltava para sua casa, no bairro Barracão, apenas nos finais de semana. Chegou a acreditar que não conseguiria realizar o sonho.

Não demorou para que ele voltasse para o time principal, no ano seguinte, onde teve boas atuações. No ano seguinte, o jovem lateral se firmou de vez. “Lembro que a diretoria no início do ano já disse que o lateral-esquerdo tinha que ser eu, que era da base”.



Jersinho foi lateral do Brusque entre 1997 e 2000.

Característica como jogador

Jersinho era ofensivo. Frequentemente era usado como um ala por treinadores em sistemas táticos com três zagueiros. “Eu cortava muito para dentro e chutava com as duas pernas”, diz o hoje treinador que tem em seus times características muito semelhantes a época de jogador. Entretanto, quando ele chegou ao Brusque, atuava como meia. “Eu fui para a lateral em 1998 com o professor Almir Coutinho, na base. Em um amistoso, me destaquei nessa função e daí para frente comecei a jogar nessa posição”.


O primeiro grande passo
A mesma intensidade, profissionalismo e a forma obcecada de trabalhar que hoje demonstra na beira do gramado, fez com que o lateral despontasse entre 1999 e 2000. “Ali eu senti que eu ia começar a ser jogador. Eu tive uma evolução muito boa.” Ele teve uma atuação regular no Campeonato Catarinense daquele ano e depois novamente voltou para a base, para disputar o estadual das categorias inferiores. O que poderia parecer para qualquer um retrocesso na carreira, acabou sendo o trampolim definitivo para a carreira deslanchar de vez.

Em um duelo contra o Criciúma, ele chamou e entrou no radar do Tigre. Depois, em mais um retorno para o profissional, olheiros do clube carvoeiro tiveram certeza de que queriam contar com os serviços de Jersinho. “Na época, também houve interesse do Avaí. Mas eles queriam por empréstimo e o Criciúma veio e me comprou”, revela.

Quando chegou para treinar, foi comunicado pela diretoria sobre a transferência. Ao saber, não conteve a emoção e a felicidade. Era a primeira venda da história do Brusque Futebol Clube.

Passagem pelo Criciúma e por outros clubes

No sul do estado, teve um ótimo início e chamou atenção de clubes maiores, como o Athletico Paranaense. Polivalente, ele mais uma vez usava como alicerce sua capacidade em atuar pelas duas bandas do gramado. Pelo Tigre, fez 42 jogos e marcou um gol, tendo conquistado a Série B do Campeonato Brasileiro.

Além do Tigre, teve passagens pelo Gama, Villa Nova (MG) e Francana até chegar no Botafogo de Ribeirão Preto. No Pantera, se destacou na Série A2 de 2005 e despertou interesse de diversos clubes de maior expressão como Palmeiras, Náutico, Ceará, CRB e Londrina. Porém, as especulações não se concretizaram e Jersinho acertou sua volta ao futebol catarinense, para atuar no Joinville. “Acho que algo que pesou na minha carreira foi que eu nunca tive empresário. Acho que esse profissional te ajuda muito quando você está em uma fase boa, a divulgar seu trabalho, a te colocar melhor no mercado”, lamenta.

Lesão no púbis põe fim a carreira

Ainda passou por XV de Piracicaba, Atlético de Ibirama, Tubarão, Marcílio Dias, Brasil de Farroupilha e Imbituba, quando uma pubalgia abreviou sua carreira precocemente, aos 28 anos, em 2009. Dores que são sentidas até hoje com uma sequência mais intensa de atividades físicas e que iniciaram após a cobrança de uma falta no Brasil de Farroupilha. “Chegou uma época que eu nem treinava mais, só jogava”, diz o autor do primeiro gol da história do estádio Emília Mendes Rodrigues, casa do hoje extinto clube. O último jogo como profissional foi na decisão da Divisão Especial daquele ano. Jersinho pendurou as chuteiras da forma com que iniciou sua carreira como treinador: sendo campeão. E por incrível que pareça, nos tempos de atleta ele nunca havia pensado em dirigir alguma equipe. “Eu era muito tímido, tinha dificuldade em me expressar. Hoje encontro alguns ex-companheiros e eles ficam surpresos. Mas eu sempre digo para eles que eu me preparei para ser treinador”.

Brusque e Jersinho: feitos um para o outro

O retorno ao Brusque como atleta não ocorreu, apesar de algumas sondagens, como em 2007. Porém, desde o regresso como auxiliar e treinador das categorias de base do clube, ficou claro de que o Brusque precisava de Jersinho e Jersinho precisava do Brusque. Consolidado como comandante do Bruscão em um momento histórico, ele não oculta seu apreço pelo Quadricolor. Uma relação que teve o desfecho que toda história de amor merece. “O reconhecimento que tive nesse um ano como treinador, eu nunca tive na minha carreira como atleta. Os resultados são expressivos, para mim e para a cidade isso é muito importante. O torcedor se sente representado, o Brusque vive o melhor momento de sua história, é respeitado por todo o Brasil, tendo um treinador que é cria do clube e natural da cidade vizinha”, afirma, com o brilho nos olhos de quem sabe que redige um novo capítulo desta história a cada partida. 


Jersinho comanda o Brusque desde o ano passado e já conquistou dois títulos. Foto: Jefferson Alves/Brusque FC

Clubes como atleta: Tupi de Gaspar (1996), Brusque (1997 até 2000), Criciúma (2000 até 2002), Gama (2003), Villa Nova/MG (2004), Francana (2004), Botafogo/SP (2005), Joinville (2005), XV de Piracicaba (2006), Tubarão (2006), Atlético de Ibirama (2007 e 2009), Marcílio Dias (2007 até 2008), Brasil de Farroupilha (2008), Imbituba (2009 até 2010).


por Celio Bruns Jr

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