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TOCO Y ME VOY

Tchau, Yoko. Oi, Julia. O último dia de John Lennon

Coluna desta semana imagina como o ex-beatle teria relatado seu último dia e faz analogia com canção que fala sobre os pais de Lennon

Publicado em 24/04/2020 às 08:39
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Nova Iorque, 1980. Abro os olhos, Yoko e Sean ainda dormem. Sim, ao contrário do que contei em “I’m Only Sleeping”, agora acordo cedo. Bom, é verdade que meus hábitos mudaram muito desde então. Abro a cortina e vejo do alto do Dakota mais uma manhã nascendo na cidade. Os carros buzinam, as pessoas têm pressa. Yoko desperta. Nosso dia será bastante movimentado. É o preço que se paga por voltar à ativa após cinco anos parado. Mas, aqui estamos nós, com o Double Fantasy lançado e nos ouvidos do mundo inteiro. Não demora muito pra campainha tocar. É Annie Leibovitz, fotógrafa da Rolling Stone, que deseja fazer uma sessão de fotos comigo e Yoko. Acabada a sessão, vamos dar uma entrevista a uma rádio local. De volta ao aconchego do lar, decidimos sair no final da tarde. Era preciso terminar uma canção. As portas do elevador se abrem e nos levam para o térreo. Algumas pessoas me cercam, pedem autógrafos. É tranqüilo, me sinto seguro aqui. Muito diferente da loucura que foram os anos 60.

De repente, um homem misterioso se aproxima. Usa grandes óculos marrons e tem muita vontade de falar comigo. Pede um autógrafo. Solicito uma caneta e ele prontamente me entrega. Assino: ‘’John Lennon, 1980”. Pergunto-lhe se precisa de mais alguma coisa. Ele diz que não, embora pareça muito precisar de algo. Trabalhamos muito no estúdio e a única coisa em que pensei foi voltar logo para casa para poder abraçar e brincar com Sean. Ele está com cinco anos e é a minha cara. E o mais legal de tudo isso é que fazemos aniversário no mesmo dia! 

O chofer nos deixa em frente ao Dakota. Mal posso esperar para relaxar após um dia tão extenuante. Tirar os sapatos, esticar as pernas, ver qualquer besteira na televisão. Ser livre como naquelas primaveras na casa da Tia Mimi em Liverpool. 

Ao me aproximar da porta de entrada, uma voz me chama:

- Sr. Lennon!

Percebo que conheço aquela voz. O rapaz do autógrafo! Sabia que ele precisava de mais algo. Pow, pow, pow, pow, pow. Vou de encontro ao chão, meus óculos, outrora símbolo de uma geração que clamava por paz, agora estão cheios de sangue. Yoko grita. 


 John Lennon autografa disco de homem que o viria a matar algumas horas depois. 

Imediatamente entro na mesma viagem que convidei o mundo a fazer em Strawberry Fields Forever. Nada é real e não há nada para se preocupar. Viver é fácil com os olhos fechados. Tudo faz sentido agora. De repente, volto para aquela tarde em que tive que escolher entre Alf e Julia. Mamãe, não se vá. Papai, volte pra casa! Me doeu a vida inteira, muito mais do que esses cinco balaços pelas costas. Tenho pouco tempo, lembranças passam pela minha mente: os anos na Escola de Artes, em Liverpool, a Quarrymen, Peter Shotton, Stu Sutcliff, as fãs enlouquecidas, Brian Epstein, Paul, George, Ringo!

As luzes vão se apagando. Eles me abrem, mas não respondo. O sonho acabou. Volto a ser criança, estou no fundo de um profundo poço me afogando e gritando por socorro. De repente, um rosto conhecido me estende a mão e me tira dali. É minha mãe Julia e meu pai Alfred. Finalmente poderei viver com eles. Aqui, ao contrário do que canto na música "Mother", mamãe não se foi e papai voltou para casa.



Capa do Daily Mirror noticiando a morte de Lennon.

Mark David Chapman assassinou John Lennon em 8 de dezembro de 1980, em Nova Iorque, com cinco disparos de revólver calibre 38. Ele já teve pedido de liberdade negado dez vezes e cumpre pena em uma prisão de Attica, no estado de Nova Iorque. Há alguns anos ele confessou que sentiu que "matando John Lennon me tornaria alguém e em vez disso tornei-me um assassino, e os assassinos não são alguém”, disse, reconhecendo que foi “uma decisão horrível acabar com a vida de alguém por motivos egoístas”.

Dica de filme
O filme "Capítulo 27 - O assassinato de John Lennon" (2007), relata os três dias em que Mark David Chapman esperou por John Lennon em frente ao edifício Dakota para assassinar o astro. Chapman é interpretado por Jared Leto. 



Foto: Reprodução


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