Para quem é aficionado por
leitura, talvez mais interessante do que ler e poder viajar nas histórias de um
bom livro seja encontrar aquele título tão procurado. Toda oportunidade de
poder dar uma “garimpada” em uma livraria ou sebo e dar uma pesquisada nos volumes
que ocupam as prateleiras é uma chance de encontrar aquela raridade, ou uma
obra indispensável a qualquer biblioteca particular.
Em tempos onde grandes
livrarias passam por mal bocados financeiros e o mercado editorial no Brasil é
incerto, os sebos, onde são vendidos ou trocados livros seminovos e usados, são
uma opção para quem não dispensa uma boa leitura e quer pagar um preço que não
pese tanto no bolso na hora de conseguir a obra tão desejada.
Há muito tempo sem uma loja
física especificamente voltada para a venda e troca de livros na região, uma
professora de Guabiruba tirou do papel e do ambiente virtual o projeto de ter um
legítimo sebo para amantes da literatura terem essa experiência sensorial de
encontrar o livro tão almejado.
Paixão
por livros
Quando a professora de química
Márcia Antônia Moreira decidiu dar início ao sebo “Só Acredito Lendo”, o
fascínio pela leitura certamente foi determinante. Leitora desde muito jovem e
cliente deste tipo de estabelecimento desde sempre, Márcia teve o lampejo de
ter o seu próprio sebo ao perceber a dificuldade dos alunos de conseguir encontrar
livros à preços acessíveis na região.
“A ideia de montar veio do meu
próprio gosto pessoal. Eu sou cliente de sebo desde criança e senti essa
necessidade por trabalhar com os alunos, via a questão dos preços absurdos que
se cobram nas livrarias, e com a falta de um na região, surgiu então a ideia”,
explicou Márcia.
A professora revela que sempre
quis ter uma livraria, mas enxergou nesse nicho uma possibilidade para
despertar também nas pessoas o desapego pelos livros que já haviam sido lidos.
“Na verdade, eu sempre tive a
vontade de ter uma livraria, mas transformar esse sonho antigo num sebo foi
mais pela necessidade da região mesmo de não ter essa oportunidade de trabalhar
o desapego e adquirir as obras em valores mais razoáveis”, justificou.
Leitores
de todas as idades
Os primeiros livros a compor o
acervo do sebo foram os da própria professora e de amigos e pessoas que
deixavam o material consignado, além daqueles comprados em sebos de outras
cidades por ela e seu marido Luís Carlos. A venda começou no mundo virtual em
janeiro de 2017, ou ainda na participação com estandes em feiras culturais da
região. De acordo com a professora, o público que mais compra e procura por
livros são os mais jovens.
“O perfil da minha clientela
é, na maioria, de jovens. Tanto que quando eu criei a loja física eu,
privilegiei, essa faixa etária, a comunidade geek, nerd e os jovens. Depois da
abertura do espaço físico eu passei a ter uma clientela mais diferenciada”,
conta.
Depois de reforçar o acervo de
livros e criar uma freguesia vendendo pela internet, o espaço físico do Só
Acredito Lendo foi aberto há cinco meses, em setembro de 2018, e além dos
livros passou a vender também artigos e presentes ligados a cultura geek e pop. Conforme explicou Márcia, a
partir de então houve uma mudança no perfil dos clientes.
“Hoje tem senhoras que gostam
de ler desde sempre e que passaram a ter essa oportunidade de comprar também.
Em Guabiruba tenho clientes fiéis que vão a cada 15 dias e as vezes até
semanalmente buscar um livro, que são senhoras e senhores mais velhos que moram
ali por perto, então foi uma clientela que eu descobri somente depois de abrir
a loja”, relatou a professora.
Leitura
na era digital
A constante evolução dos meios
eletrônicos e da maneira das pessoas se relacionarem mudou a forma das pessoas
consumirem cultura também. Há poucos meses, grandes redes de livrarias
nacionais, como a Cultura e a Saraiva, entraram com pedido de recuperação
judicial e escancararam os problemas enfrentados no mercado editorial
brasileiro, gerando um grande debate a respeito do tema.
Na contramão desse cenário
desolador, os jovens da região, que tem muita familiaridade com o touch dos smartphones do que qualquer
outra coisa, optam muitas vezes pelo bom e velho livro físico na hora de sentar
e ler. De acordo com a professora Márcia, somente a questão financeira leva as
pessoas para plataformas de leitura digitais.
“Nós temos um número grande de
jovens que se interessam pela leitura, e nós temos aquela maioria que é da
cultura pop, que é do que está na moda, mas dentro deste grupo que é grande,
tem um pequenininho que se interessa de fato por literatura e esse grupo
prefere o livro físico ainda. A maioria das pessoas com quem eu converso não
são adeptas do Kindle, do PDF, somente devido a necessidade financeira”,
salienta.
Até na hora de comprar os
livros, o presencial ainda mostra sua força frente ao virtual. Márcia afirma
que depois de aberta a loja no Centro de Guabiruba, as vendas pela internet
acabaram ficando estacionadas e empatadas com as vendas físicas. Segundo ela,
além do fato de o comércio pela internet não ter tanta força na região, poder
visitar um sebo e escolher o livro presencialmente ainda gera encantamento nas
pessoas.
“O prazer de se estar em uma
loja, de poder manusear os livros, isso eu vejo que é compartilhado por muita
gente. Nós sentimos o encanto das pessoas de poder chegar, mexer, escolher o
livro físico de maneira presencial, isso ainda é uma coisa que existe na nossa
sociedade, e no meio dos jovens também, apesar de eles estarem tão ligado nas
mídias, na tecnologia, eu vejo que ainda existe esse encanto”, ressalta.
Onde
fica
O “Só Acredito Lendo” fica
localizado na rua Brusque, nº 404, sala 6, no Centro de Guabiruba, funciona de
segunda a sexta das 8h as 11h30 e das 13h30 as 18h e aos sábados das 8h as 12h.
Nas redes sociais, o sebo está no Instagram @sebosoacreditolendo.