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RIVALIDADE

Vizinhas, Brusque e Blumenau possuem rivalidade histórica no esporte

Confronto entre as cidades em diversas modalidades costumam ser acirrados e já proporcionaram momentos emocionantes

Publicado em 02/06/2020 às 04:46
Atualizado em

(Foto: Arquivo)

Se buscarmos no dicionário a definição da palavra rivalidade encontraremos: “concorrência de pessoas que pretendem a mesma coisa”. Separadas por aproximadamente 40 km, as cidades de Brusque e Blumenau sempre buscaram o mesmo quando se trata de esporte: o pódio e o domínio do esporte na região. Toda essa rixa é evidenciada em disputas acirradas no vôlei, basquete e futebol, por exemplo.

Historiador e professor universitário no curso de Jornalismo da Univali, André Pinheiro explica porquê no esporte há essa competição entre equipes que ocupam e disputam o mesmo território. “Essa rivalidade está ligada a construção da trajetória histórica em uma proximidade territorial. O desenvolvimento dessa proximidade se dá na convivência, no cotidiano e isso leva a uma comparação constante de êxitos e fracassos”.


Em 1985, Brusque levou a melhor sobre Blumenau no vôlei feminino e voltou a ser campeã na modalidade após 14 anos. Foto: Brusque Memória

Confrontos decisivos no basquete

Tanto Brusque como Blumenau têm fortes laços com os Jogos Abertos de Santa Catarina. Os JASC nasceram em Brusque, mas são os vizinhos quem dominam historicamente a competição. De 59 edições, Blumenau conquistou 42, inclusive a última, realizada ano passado em Timbó, Pomerode e Indaial. A medalha de ouro no basquete masculino foi conquistada em cima de Brusque em uma das modalidades mais acirradas. O ex-técnico da equipe blumenauense, Sérgio Carneiro, acredita que devido a proximidade também há disputas entre as cidades em questões comerciais e territoriais. “Estar próximo sempre acirra essa rivalidade. Basta ver as rivalidades regionais entre clubes do Brasil para perceber isso”.

Carneiro diz que apesar desse antagonismo no basquete, há sempre um respeito e até admiração pelo rival. “Trabalhei em Brusque como treinador duas vezes, tenho um carinho muito grande pela cidade, sou muito grato a Brusque pelas portas que me abriu. A primeira liga nacional que eu dirigi como técnico foi por Brusque”. O treinador lembra que Blumenau também tem uma rivalidade muito grande com Joinville na modalidade.

Foram várias partidas decisivas no basquete entre Brusque e Blumenau. Decisões de títulos e vagas em competições. Nos últimos dez anos, foram oito finais do estadual adulto de basquete entre as duas cidades. Carneiro lista partidas que o marcaram contra Brusque na sua trajetória. “No meu penúltimo ano como técnico, vencemos a decisão em Brusque, foi muito emocionante. Também joguei por Brusque contra Blumenau e foi uma partida marcante. O fato de um estar sempre ganhando na casa do outro é algo que foi muito importante para a história do basquete de Santa Catarina”.


Duelos no basquete entre Brusque e Blumenau costumam ser acirrados. Foto: Sidnei Batista/Basquete Blumenau

Por quê Blumenau é potência esportiva?

Sérgio Carneiro acredita que a força de Blumenau no esporte deve-se também ao fato de que os colégios têm estruturas muito boas e estimulam a prática de diversas modalidades. “O fato também de Blumenau sediar os Jogos da Primavera que talvez sejam a maior competição escolar do Brasil é um berçário muito grande de atletas. É uma vitrine interna para que as modalidades possam captar talentos”.

Presidente do Brusque Basquete, Zurico Frota também se soma ao discurso de que a rivalidade é antiga e está relacionada a outros fatores. “Brusque e Blumenau sempre foram o centro da região, com grandes empresas têxteis e colonização alemã”. Ele relembra confrontos históricos como a conquista da Copa Sul Brasil, conquistada dentro do Galegão, ginásio blumenauense. Ele elogia a estrutura blumenauense nos esportes. “Eles têm um projeto que nunca foi interrompido. Fizeram a fundação de esportes muito antes que Brusque, tem também os Jogos da Primavera e o bolsa atleta há mais tempo”.

Brusque precisa se organizar melhor para disputar mais títulos

Zurico crê que as modalidades brusquenses precisam se organizar melhor e que a grande maioria “vive exclusivamente do apoio da Fundação Municipal de Esportes (FME) e da Prefeitura”, mas reconhece também o incentivo dado por patrocinadores e parceiros no caso do basquete. “Temos a equipe principal participando a vários anos seguidos de competições a nível nacional. O que serve de espelho para as categorias de base, este ano estaremos participando novamente de estaduais sub 12,13,15 e 17”.

João Almeida Camargo Neto, líder e técnico do projeto de basquete de Blumenau é assistente técnico da Seleção Brasileira de basquete feminino. Ele enxerga de forma sadia a rivalidade e atribui ao fato das equipes estarem sempre se enfrentando em decisões na modalidade. “A tendência dessas cidades se enfrentarem principalmente em finais é muito forte, e isso motiva cada vez mais as equipes das mais diversas modalidades a se fortalecerem e se prepararem para esses confrontos, gerando essa rivalidade”.

Vôlei é celeiro de atletas

Já no vôlei, a disputa também se faz presente. André Donegá, técnico da equipe blumenauense que disputa a Superliga Masculina de vôlei defende que as duas cidades são “celeiros” na formação de atletas e têm enraizadas em suas culturas a prática de esportes. “O esporte é um dos braços da formação da nossa sociedade. Acredito que essa rivalidade sempre é muito benéfica, onde há rivalidade, há crescimento”, afirma.



Em 1972, nos JASC de Itajaí, Blumenau quebrou a hegemonia brusquense de 11 anos no vôlei feminino.

Donegá recorda que no período entre 2005 e 2011 houveram disputas intensas em categorias de base. “As finais geralmente eram entre Blumenau e Brusque, muitas vitórias dos dois lados, foram partidas marcantes”. Para ele, o segredo do sucesso de Blumenau nos esportes está diretamente ligado ao investimento realizado na área e pelas estruturas oferecidas pelos clubes. “Nas principais modalidades há pessoas que as desenvolvem. Existem clubes físicos, mas principalmente pessoas que pensam no desenvolvimento dessas modalidades”, elogia. Ele cita como exemplo o basquete, vôlei, handebol e ginástica. “É um conjunto, clubes e pessoas interessadas em desenvolver essas modalidades e o apoio público através de projetos e de uma forma organizada e sistematizada”.

Richa vem do futebol

Para Dirlei Silva, jornalista e locutor da Rádio Cidade, de Brusque, a origem dessa rivalidade está no futebol. “Já existia essa rixa na época de Paysandu e Carlos Renaux com Palmeiras e Olímpico, depois o Blumenau, e hoje Brusque e Metropolitano, isso se estendeu ao esporte de rendimento”, exemplifica. Silva recorda que nos anos 80 havia uma disputa muito forte entre as cidades no vôlei feminino e também cita o basquete masculino e o bolão como outras modalidades em que as cidades sempre foram rivais.

O jornalista enxerga um enfraquecimento da rivalidade no futebol, já que o Brusque Futebol Clube hoje ocupa um patamar em resultados muito superior ao Metropolitano. “Hoje o grande rival do Brusque é o Marcílio Dias, de Itajaí. Mas no esporte de rendimento a disputa com Blumenau é a mais acirrada, principalmente através do basquete”.


Em 2019, Bruscão massacrou o rival por 6 a 1 no estadual. Foto: Lucas Gabriel Cardoso/Brusque FC

Dirlei Silva rememora a decisão do Campeonato Catarinense da segunda divisão de 1986, entre Paysandu e Blumenau. Na ocasião, o hoje extinto clube brusquense levou a melhor e ficou com o troféu. “Foram dois empates e na prorrogação houve empate de novo, mas o Paysandu tinha a vantagem e ficou campeão”. Mas a partida que mais o emocionou foi uma decisão no basquete nos Jogos Abertos de 1990, realizado em Blumenau. “Foi uma final entre as duas cidades e Brusque venceu dentro do Ginásio do Ypiranga. Foi um jogo disputado a cada segundo”, recorda. Lembra também da decisão no vôlei entre Brusque e Blumenau nos Jogos Abertos de 1985, em Brusque. “A equipe brusquense venceu por 3 a 2. Foi emocionante, quem ganhou aquele jogo foi a torcida”.

“As empresas de Blumenau apostam muito no esporte de rendimento. A cidade tem uma equipe forte também no futsal masculino e é uma potência nos Jogos Abertos por ter uma fundação atuante e um empresariado que sempre procurou investir bastante”, afirma Dirlei Silva. Ele acredita que em Brusque falta uma política que possibilite mais parcerias. “Na própria fundação deveria ter uma equipe de marketing, um grupo de pessoas que elegesse as principais equipes de rendimento no esporte coletivo e pudesse investir mais para conquista de medalhas e títulos estaduais”. Outro problema apontado por Silva é a escassez de escolinhas e trabalho de base. “Temos escolas privadas que trabalham muito bem isso e são pouco aproveitadas”.

"Metrusque", o clássico adormecido

O futebol é um caso à parte. Como bem lembrou Dirlei Silva, os ânimos entre Brusque e Blumenau são acalorados desde os tempos primórdios. A rivalidade vigente é a de Brusque e Metropolitano, adversários que parecem ter sido destinados a serem feitos um para o outro. O Bruscão é quinze anos mais velho que o Metrô. Antes da fundação do alviverde, o Quadricolor rivalizava com o Blumenau Esporte Clube (BEC). Mas a fundação do Metropolitano elevou o patamar de rivalidade e criou um antagonismo nunca antes visto. O primeiro confronto da história do Metropolitano foi justamente contra o Brusque, em 4 de agosto de 2002, curiosamente, data de aniversário do município brusquense. A partida, disputada em Blumenau, terminou empatada em 0 a 0 e foi o pontapé inicial para anos de disputa por vagas em campeonatos nacionais e por roubar o protagonismo dos grandes do estado.


Formação do Brusque no primeiro clássico da história com o Metropolitano. Foto: Arquivo Silvio Kohler

Ambos, quase sempre ocuparam o mesmo espaço na tabela. Em alguns anos, o Metrô levou a melhor na classificação geral e chegou a figurar entre os aspirantes ao título catarinense. Também, bateu na trave em várias disputas de acesso na Série D, sendo o recordista catarinense em participações na competição. Em outros, o Brusque se impôs sobre seu rival e terminou o estadual melhor posicionado. Mas a tendência sempre foi de equilíbrio e jogos emocionantes. Recentemente, o clube de Blumenau colecionou dois rebaixamentos em sequência e disputará a segunda divisão estadual em 2020, situação muito diferente a do Brusque, que é um dos candidatos ao título na primeira divisão e está na Série C do Campeonato Brasileiro.

Para Vitor Hochsprung, torcedor do Bruscão, essa rivalidade tem que ser levada com sensatez. “É um esporte, a proposta principal não é gerar brigas. A rivalidade no esporte é bacana até certo ponto, que não ultrapasse limites. Essa tiração de sarro é legal, a proximidade das cidades é a razão disso”.

O torcedor diz que “ganhar é bom, mas ganhar de uma equipe blumenauense é muito melhor”, não só no futebol, mas também em outras modalidades. Hochsprung acredita que esse sentimento também é transmitido para os jogadores dentro de campo. “Muitas vezes eu vi o Brusque ganhar do Metropolitano de goleada e foi emocionante. Um dos primeiros jogos que acompanhei foi contra o Metrô e desde pequeno senti essa emoção. No basquete isso também acontece, tenho um primo que jogava por Brusque e depois foi jogar por Blumenau”.


Caixões com o escudo do rival são provocações comuns nos confrontos entre Brusque e Metropolitano. Foto: Lucas Gabriel Cardoso/Brusque FC

Figurinha carimbada nos jogos do Bruscão no Augusto Bauer, ele admite que a disputa entre os times esfriou nos últimos anos. “Brusque e Metropolitano hoje já não ocupam o mesmo cenário. A rivalidade está relacionada a torcidas e eles perderam bastante torcedores recentemente”. Hochsprung estudou na cidade vizinha e diz que foram raras as vezes em que viu um torcedor do Metrô em Blumenau. “A rivalidade já não é mais tão forte quanto já foi, hoje o grande rival é o Marcílio Dias por conta de proximidade e disputa por objetivos parecidos”, sustenta.

Explicação sociológica

André Pinheiro explica que o antagonismo entre equipes é maior quando há uma similaridade na estatura institucional entre elas. “Clubes que estão na mesma cidade ou região e que se equivalem em grandeza, em trajetória desportiva. A rivalidade local é a mais forte que existe. Nos torneios estaduais é onde você encontra seu rival, seu vizinho e é nesses encontros que você vai poder tirar sarro ou receber gozações de pessoas que são de sua sociabilidade”, detalha.

Augusto Ittner, jornalista do Santa, relaciona a rivalidade com a obsessão de Blumenau por ganhar tudo que for possível no esporte amador desde que os Jogos Abertos foram criados. “A construção dessa rivalidade vem de décadas passadas e se consolidou principalmente nas modalidades coletivas a partir dos anos 90”, aponta.


Rivalidade é ainda maior em jogos na base. Foto: Arquivo Brusque FC

Ittner afirma que as partidas contra Brusque são mais acirradas e possuem um tempero especial. “Primeiro por conta da rivalidade entre o Brusque Futebol Clube e o Blumenau Esporte Clube no início dos anos 1990. A junção de equipes e unificação de times com o nome de cidades deu um tempero, ainda mais quanto se tratava de uma questão regional. Essa rivalidade se estendeu para o Metropolitano e aí se construiu um dos “neo-clássicos” do futebol catarinense, digamos assim”.

Os confrontos mais marcantes na memória do jornalista são no futebol e no basquete. No esporte bretão, a vitória por 4 a 2 do Verdão do Vale sobre o Brusque pelo Catarinense de 2006, ainda como torcedor e a humilhante goleada sofrida pelo time blumenauense por 6 a 1, no estadual passado, já como profissional da área de comunicação. No basquete, segundo Ittner, foram “incontáveis” os confrontos que valiam títulos e foram de extrema disputa.

Por quê o futebol não decola em Blumenau?

Ele aponta como um dos principais motivos pelo fracasso blumenauense no futebol a ausência de um estádio. “Blumenau teve a incompetência de nunca construir um estádio, e quando teve um, o demoliu. Houve uma distribuição de recursos no final de 1970 até 1980 para a construção de estádios no Brasil inteiro, mas a cidade não soube surfar nessa onda”.

As más administrações do Blumenau Esporte Clube também é uma das causas indicadas por Ittner para que o futebol blumenauense não decole. O jornalista diz que apesar do Tricolor da Alameda ter uma história bonita, diretorias questionáveis que passaram pelo clube destruíram a credibilidade e deixaram um legado negativo no esporte na cidade. “Metropolitano acaba sendo respingado por essa desconfiança dos apaixonados por futebol na cidade. Aqui, fala-se o seguinte: quem tem dinheiro, não gosta de futebol. Quem gosta de futebol, não tem dinheiro. Sem contar que o Metrô é um grande azarado: quando teve a chance de decolar, subir para a Série C, em 2013, um jogador perdeu um gol sem goleiro que daria o acesso”, lamenta.

Ele finaliza dizendo que o grande trunfo de Blumenau nos esportes não é apenas vencer os JASC, mas sim vencê-los com blumenauenses representando a cidade, e não “estrangeiros”.


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