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Descaso? Brusquenses relatam transtornos em atendimentos acerca da covid-19

Cidadãos denunciaram situações de transtorno ao procurarem atendimento de saúde em centro de triagem e no Hospital Azambuja

Publicado em 08/07/2020 às 04:45
Atualizado em

(Foto: Reprodução/Portal da Cidade Brusque)

Nas últimas semanas, Portal da Cidade Brusque recebeu denúncias de brusquenses que alegam terem passado por graves situações em atendimentos fornecidos pela Prefeitura de Brusque ou pelo Hospital Azambuja.

Nos relatos, eles criticam a postura das entidades em relação ao que classificam como um descaso. As denúncias que foram enviadas para a redação você pode conferir abaixo.

Sete horas na espera

O primeiro testemunho enviado à Portal da Cidade Brusque ocorreu com a mãe de duas irmãs brusquenses. No domingo (28), a mulher, de 54 anos de idade, foi levada pelas filhas ao Hospital Azambuja com sintomas da covid-19. 

As filhas informaram que ela tinha muita tosse e dor de cabeça. Com isso, pediram para que a mulher fosse submetida a um teste para descobrir se ela era portadora do vírus ou não. 

Na segunda-feira (29), a mulher foi levada ao Centro de Triagem no Pavilhão da Fenarreco. As filhas informaram que os profissionais não quiseram fazer o exame, pois, a mulher não apresentava febre. Solicitaram, então, que ela fosse embora.

Na terça-feira (30) o estado de saúde da mulher começou a se agravar ainda mais. Assim, na quarta-feira (1°) ela foi levada para fazer uma consulta particular, em que o médico informou que a paciente estava com pneumonia.

O especialista que realizou a consulta particular fez uma ligação para o Hospital Azambuja alertando que esta mulher precisava de atenção dobrada com pneumonia e aparentes sintomas de covid-19.

Ela foi levada novamente para o hospital e, após esperar muito tempo, na consulta informaram que ela estava com bronquite e mandaram ela para recuperação em sua residência.

Não contente com o tratamento por parte do hospital, na manhã de quinta-feira (2) as irmãs conseguiram marcar uma tomografia particular para a mãe. Após a realização do procedimento e pela urgência do caso, o médico que fez a consulta agilizou o laudo e informou ao Hospital Azambuja que a mulher precisava ser internada imediatamente. 

Isto, um dia após ela ter ido ao hospital e ter sido liberada.

Às 16h23 de quinta-feira (2) a mulher deu entrada na fila de espera do Hospital Azambuja com as filhas, alegando que tinha uma tomografia e, por indicação do médico particular, precisava ser internada, sobretudo por apresentar sintomas de covid-19. 

Lá, a mulher, visivelmente debilitada, ficou esperando o atendimento junto com os demais pelo período de sete horas.

Por várias oportunidades uma das filhas foi na recepção falar que sua mãe não estava bem. A mulher chegou até a vomitar na espera para o atendimento. “Nós fomos humilhados, as pessoas começaram a xingar dizendo: ‘essa mulher está com covid-19, ela não pode ficar aqui’. E eu entendo a preocupação das pessoas, pois colocar a mãe com as outras pessoas era colocar, também, a vida dos outros em risco”, disse a filha.

Ela foi atendida apenas às 23h, após a filha ligar para uma amiga que conhecia um dos diretores do hospital. Na ligação, ela explicou a situação para o diretor e pediu para que a mulher fosse atendida.

“As pessoas começaram a ir embora. Chegou às 23h, o pronto socorro estava vazio, tinha apenas a mãe e mais um rapaz para ser atendido. E eles simplesmente não chamavam para entrar”, comenta a filha.

“Atenderam ela às 23h15, colocaram ela no oxigênio e depois mandaram ela ir embora. Eram 3h e estávamos saindo do Hospital. No outro dia ela acordou pior, fomos novamente na triagem da Fenarreco. Ela chegou lá em um estado que fica até complicado de explicar. O médico fez o teste rápido de covid-19, que deu positivo. Chamou a ambulância e ela foi de oxigênio da triagem da Fenarreco até a triagem do Hospital”, ressalta.

A filha também alega total frustração e irritação por parte do hospital e das demais entidades públicas. “Tudo isso poderia ser evitado se ela fosse atendida adequadamente no domingo, no Hospital Azambuja, ou na segunda-feira quando ela foi no Centro de Triagem da Fenarreco (...) ela foi três vezes no hospital e duas vezes na triagem. Apenas na quarta vez que ela foi para o Azambuja que ela foi internada e atendida adequadamente”, afirma.

“Gastaram 600 testes à toa, sem necessidade, naquele drive thru na Uniasselvi. Quando precisa, que a pessoa está com todos os sintomas e todas as evidências, eles não fazem o teste. E quando não precisa e distribuem os testes”, finaliza.

Uma das filhas informou que uma ouvidoria foi aberta e elas estão à espera de respostas.

Buscamos contato com o diretor administrativo do Hospital Azambuja, Evandro Roza, que informou apenas que o hospital vai tratar este caso via ouvidoria.

“Esqueceram de mim…”

No outro caso, um homem, que também pediu para não ser identificado, foi um dos 600 que fizeram o teste rápido no drive thru da covid-19, realizado estacionamento da Uniasselvi. No dia da realização do exame, em 26 de junho, a Secretaria de Comunicação Social enviou um release para a imprensa, às 17h24, em que a diretora de Vigilância em Saúde, Alícia Maria de Andrade Fagundes, disse: “Todas essas pessoas (que testaram positivo no drive thru) já foram comunicadas. Entre elas, há três casos de funcionários da Prefeitura de Brusque”. 

Porém, o homem citado acima estava na lista dos 29 a testar positivo no drive thru, e foi informado de seu resultado apenas às 16h do dia 29 de junho, ou seja, quase três dias após a realização do teste. Neste período, ele teve contato com diversas pessoas.

Para reportagem de Portal da Cidade Brusque, ele disse, também, que ao notar que estava demorando para ser notificado de seu resultado do exame, enviou, no dia 26 de junho, às 16h32, uma mensagem para o WhatsApp da Secretaria de Saúde, sendo respondido apenas no dia 29 de junho.

Indignado, quando foi buscar seu exame, a servidora pública que entregou o papel com o resultado, disse a ele que havia informado, via WhatsApp, o seu resultado já no dia 26 de junho e que teria, também, ligado para seu telefone residencial antes das 20h. Como prova do envio da mensagem, a servidora disse ao homem que iria enviar uma captura de tela da conversa, mostrando que ele não visualizou a mensagem.

Porém, desde a data que ele recebeu seu teste, em 29 de junho, já se passaram nove dias e ele afirma não ter recebido o print que confirma que já havia sido notificado, já que a servidora afirmou que lhe iria encaminhar a mensagem. O homem disse, também, que não mudou o número de seu celular durante este período e que em sua casa haviam pessoas durante todo dia.

Além disso, ele disse que a Secretaria de Saúde não respondeu suas mensagens enquanto ela estava em horário de funcionamento. “Eu não vejo problema em o resultado ser divulgado alguns dias depois, o que mais me deixou indignado foi de não conseguir um contato com a Secretaria de Saúde. Eu mandei, às 16h32, uma mensagem por WhatsApp para aquele número que eles disponibilizam, onde eles informam que o atendimento é até as 17h, e nem sequer receberam a mensagem”, conta.

“Liguei para a diretoria de Vigilância Epidemiológica e me falaram que isso não era com eles e que eu tinha que aguardar pois iriam entrar em contato comigo. O que mais me deixou p***, é que no final do dia eles (Prefeitura de Brusque) soltaram uma nota falando que 29 pessoas testaram positivo e que todas já haviam sido comunicadas. Então, automaticamente, eu pensei: ‘se todas as pessoas que testaram positivo foram notificadas, é por que o meu teria dado negativo’ (...) Isso é uma falta de respeito com a população”, afirma.

Buscamos a versão da diretora de Vigilância em Saúde, Alicia Maria de Andrade Fagundes, que indicou a farmacêutica do Serviço de Atendimento Especializado (SAE), Camila Gilli, para responder nossos questionamentos

Camila informou que a logística do drive thru inclui uma planilha onde as mensagens eram enviadas por uma pessoa da equipe. “Felizmente tivemos um grande fluxo de mensagem e acabamos tendo um erro com esse paciente específico. O telefone dele foi listado como enviado e, na verdade, a mensagem não foi enviada (...) todos os pacientes positivos tinham que retornar imediatamente no drive thru para orientações e quatro deles não retornaram. Então, neste mesmo dia (26 de junho), após a ação, viemos para a Vigilância Epidemiológica e, entre às 18h e às 19h, ligamos para eles para que pudessem receber todas as informações e saberem quais as condutas”, afirma.

“Ninguém que estava no drive thru trabalhou no final de semana. Com esse específico paciente fizemos uma tentativa de busca em telefone fixo e celular, e ele não atendeu nenhuma das ligações. Infelizmente não temos o registro telefônico do telefone fixo da Vigilância”, ressalta.

“Na segunda-feira (29 de junho) aguardamos para ver se algum paciente que havia recebido a mensagem ainda não tinha comparecido à Secretaria para as orientações. Assim, os que faltavam compareceram e, no período da tarde, percebemos que este paciente não tinha aparecido. Lembrando que este dia foi de um grande fluxo, então até conseguirmos ver quem tinha vindo e se era do drive thru, demorou algumas horas”, esclarece.

Além disso, Camila lembra que após contatar este paciente que testou positivo, de imediato ele compareceu a diretoria. “Conseguimos contato com ele de tarde, ele compareceu à Vigilância e foi orientado e, até o momento, a gente acreditava que a mensagem havia sido enviada para ele, pois estava checado na planilha. Quando ele veio e garantiu que não foi enviada uma mensagem para seu celular, nós decidimos revisar toda a planilha, então, na terça-feira (30), revisamos tudo. Apenas um paciente, após a revisão, não foi contatado, que provavelmente deu o número errado”, diz.

“Pedimos desculpas pelo ocorrido. Porém ressaltamos que o teste realizado nele é de anticorpo total, podendo o resultado positivo indicar tanto uma infecção antiga ou, até mesmo, ser falso”, afirma.

Camila afirma, também, que ainda existe um questionamento em relação a transmissão de um paciente assintomático. “Um resultado isolado e sem sintomas pode não representar uma doença. Ainda assim é questionável qual o valor desta transmissão em pacientes assintomáticos. Caso a ação de testagem destes assintomáticos, que foi o drive thru, não tivesse ocorrido, o paciente iria continuar sua rotina normal, já que, até o momento, ele não havia apresentado nenhum sintoma (...) A Secretaria continua monitorando os pacientes e os famílias e segue dando total apoio e suporte necessário”, finaliza. Porém, vale lembrar que, conforme informou o homem infectado, ele sentiu febre alguns dias antes da realização do teste.

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