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Denúncia

Peritos de SC encontram anfetaminas em emagrecedores vendidos como naturais

Equipe analisou marcas vendidas na internet e adquiridas sem nenhuma orientação. Os laudos do IGP apontam várias substâncias sintéticas e até alucinógenos.

Publicado em 21/09/2019 às 05:22

(Foto: NSC TV/Reprodução)

Técnicos do Instituto Geral de Perícias de Santa Catarina (IGP) confirmam ter encontrado várias substâncias sintéticas em pílulas vendidas como remédios naturais para emagrecer.

Equipe analisou marcas vendidas livremente pela internet e adquiridas sem nenhuma orientação. Os laudos do IGP apontam até alucinógenos nas composições das cápsulas.

Em vários estados do país já foram registradas mortes e complicações de saúde em pessoas que decidiram fazer a auto medicação, o que tem deixado médicos e a polícia em alerta.

Análises

As pílulas adquiridas pela equipe da NSC TV durante o trabalho de cinco meses de investigação, e encaminhadas para a Polícia Civil de Santa Catarina, foram testadas em equipamentos capazes de separar e identificar as substâncias misturadas dentro de cada cápsula. A perita criminal bioquímica do IGP de Joinville , Gisele Parabocz, afirma que não eram produtos naturais.

"Dos produtos que a gente recebeu, a gente encontrou substâncias sintéticas, como a sibutramina, fluoxetina, diazepam, alguns outros com clobenzorex, essas substâncias são todas sintéticas e são medicamentos controlados que não poderiam estar nos fitoterápicos."

Dois laudos do IGP mostram em quais produtos vendidos como naturais estavam cada uma dessas substâncias. 

No Royal Slim, clobenzorex, fluoxetina, usada no tratamento de depressão e de transtorno obsessivo compulsivo. 

O clobenzorex, que também foi encontrado no Natural Dieta, é uma anfetamina, tem efeito estimulante e tira o apetite. Uma substância psicotrópica que pode causar dependência.

"Misturar diferentes substâncias, duas, três ou mais, com potencial farmacológico, e aqui a gente não tá falando de plantas, a gente tá falando de medicamentos misturados, é sempre extremamente perigoso. Você não vai conseguir olhar em sites médicos estudos misturando essas duas, três ou quatro substâncias simultaneamente em seres humanos. Então não se sabe o resultado", disse a perita.

No Yellow Black, os peritos encontraram mais substâncias químicas: diazepam, bupropiona e sibutramina, que também foi identificada no Original Ervas. A bupropiona é usada para tratar depressão. O siazepam, que também pode causar dependência, é um medicamento usado para combater transtorno de ansiedade. Já a sibutramina é psicotrópica e anorexígena, corta o apetite. É receitada apenas em casos graves de obesidade. 

As substâncias estão na lista das altamente controladas do Ministério da Saúde. Só podem ser compradas com receita médica especial.

Todos os produtos tinham substâncias estimulantes que inibem o apetite. Agem diretamente no sistema nervoso central. Fazem o cérebro emitir sinais de que pessoa está saciada e, com isso, coma menos ou nem se alimente. Mas também aceleram o metabolismo, aumentando o batimento cardíaco e a pressão arterial.

O coração e outros órgãos, como os rins e os pulmões, passam a trabalhar sobrecarregados o tempo todo. 

"Essas drogas fazem que isso seja permanente. O indivíduo, permanentemente vai ter seu coração trabalhando mais. Com seu batimento cardíaco mais alto, sua pressão mais alta do que seria natural e, consequentemente, queimando mais combustível. Significa você colocar um motor pra funcionar durante 24 horas, durante a maior parte do tempo, o que é totalmente inadequado. A consequência pra saúde tente a ser péssima", garante o cardiologista Tales de Carvalho. 

"Colocando o organismo pra trabalhar num ritmo mais alto o motor girando mais, durante o dia inteiro, quer dizer, indo na contramão do que se pretende quando a gente busca uma saúde cardiovascular, tentando fazer com que o organismo trabalhe de uma maneira mais tranquila, mais econômica no dia a dia." 

Com a sobrecarga constante pode aumentar a ansiedade e desidratação. 

Por cinco meses, a equipe de reportagem acompanhou grupos que discutem e comercializam essas cápsulas. Perguntaram para 103 pessoas quais reações elas tiveram depois que usaram os produtos, supostamente naturais - 88 relataram efeitos colaterais característicos de estimulantes sintéticos. Uma delas escreveu que foi parar no hospital. 

"Da primeira cápsula, eu senti que eu fiquei com muita sede, fiquei tomando água, tava eu e a minha filha em casa. Depois, eu tomei a segunda cápsula, foi que depois andei eu comecei a ficar bastante tonta e com bastante dor de cabeça. Dai eu liguei pro meu marido, que ele tava trabalhando, falei que eu tava passando mal. Dai após isso eu não lembro mais nada."

Além dos estimulantes, foram encontradas substâncias calmantes e antidepressivas nas cápsulas. Misturadas sem precedentes e nem garantias científicas.

"É um barco a deriva. A gente não tem como saber. O que dá de saber. Aparentemente o que foi visto aqui, eles tentam acelerar de um lado, desacelerar de outro, mas as vezes acelera de novo em que quantidade? Em que proporção? E mais do que isso, será que sempre é a mesma mistura? Será que não tem misturas que vão mudando conforme o lote? Então é uma barco a deriva, é uma bomba-relógio", disse o médico.

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