Silvio José da Luz, Luciano Mafra e Fernando Dácio são os três artistas com atuação em Brusque envolvidos com a criação colaborativa de Certos Cães, espetáculo teatral que estreia na quarta-feira, 8 de agosto, às 20h, no Espaço Elfy Eggert da Fundação Cultural de Blumenau, e será reapresentado na quinta-feira, 9, e sexta-feira, 10, no mesmo horário e local.
Nos três dias, a entrada é gratuita e os ingressos podem ser retirados no local, uma hora antes do início das sessões. O público será limitado a 50 pessoas por apresentação, por isso, é importante chegar com antecedência. A classificação indicativa é livre.
A previsão dos organizadores é de que a montagem faça temporada por Brusque ainda no segundo semestre de 2018. Em Blumenau, a última apresentação será seguida de um debate sobre o processo de construção da montagem.
Certos Cães é um espetáculo solo, que nasce do diálogo entre o conto Investigações de um cão (1922), de Franz Kafka, e a trajetória pessoal e profissional do ator, diretor e professor blumenauense Silvio José da Luz, conhecido em Brusque especialmente por ministrar o curso de Teatro da Fundação Cultural, mas também por outros trabalhos.
Assinou, por exemplo, a direção de Ao Som dos Teares (2016-2017), do Trama Grupo de Teatro, e de A Ilha Deserta (2016-2017), da Cia Híbridos, que circulou em Brusque e Guabiruba estando diretamente ligado à formação de ambos os grupos.
Desta vez, porém, Da Luz é quem estará em cena. Em Certos Cães, tal qual o narrador do texto kafkiano, ele é “o cão” que investiga, silencioso e solitário, as relações estabelecidas entre os membros da sociedade canina que integra, questionando-se sobre a origem do alimento, por que poucos o possuem e o que de fato lhe nutre o tempo todo sob o olhar vigilante e a interferência coercitiva do diretor-adestrador Roberto Morauer, do Grupo Detalhe de Teatro, de Blumenau.
“Assim como nesse ‘mundo cão’ de Kafka, a trajetória de Silvio José da Luz sempre foi pautada em questionamentos diversos, pela busca de inserção e a vida em grupo, pela pesquisa artística e, principalmente, em como viver de arte”, revela o Morauer, com quem Da Luz estabeleceu relações profissionais e de amizade há mais de duas décadas.
Na busca pela horizontalidade das relações entre todos os criadores envolvidos no processo, salienta o diretor, Certos Cães resulta, também, da influência do cenógrafo brusquense Luciano Mafra, professor de Teatro no Colégio Cônsul Carlos Renaux desde 1996, onde dirige o Grupo Atividade Independente. Mafra é o responsável pela ambientação do espaço onde o cão vive e se relaciona com seus semelhantes.
Já o músico Fernando Dácio, também com passagem pela Fundação Cultural de Brusque, criou e gravou a trilha sonora original do espetáculo, idealizada propositalmente para interferir na construção das cenas. A eles, soma-se o figurinista Flávio Hach, idealizador da indumentária da qual o cão se utiliza para enfrentar a brutalidade física e psicológica a qual é submetido e a qual se submete na trama.
Processo criativo
A intersecção entre a vida do protagonista e conto de Kafka está no cerne da “dramaturgia do ator”, traduzida pelo diretor Morauer como um “processo criativo que vai além da narrativa literária e visa criar o texto falado pelo ator de modo colaborativo”.
Responsável também por escrever o texto da peça, a partir das contribuições da equipe criativa, ele acrescenta que o trabalho se norteia ainda por outros dois eixos: a “preparação do ator”, com treinamentos físicos que levaram a partituras corporais, resultando em sequências de ações para a construção das cenas, e a “pesquisa musical”, que considerou a influência da música no resultado da cena, a partir da trilha sonora original criada e executada por Fernando Dácio especialmente para o projeto.
