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CINEMA

No Dia do Cinema Brasileiro, produtores avaliam situação da sétima arte no país

Para eles, descaso com o cinema nacional é ideológico e deve-se ao fato do governo federal tratar os artistas e a cultura como inimigos

Publicado em 18/06/2020 às 21:58
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(Foto: Arquivo pessoal)

Hoje (19) é comemorado o Dia do Cinema Brasileiro. A data foi escolhida porque remete àquele que teria sido o primeiro dia em que foram realizadas imagens a partir da tecnologia do cinematógrafo no Brasil, isto é: o dia 19 de junho de 1898.

122 anos depois, o cinema brasileiro vive um período de incertezas, principalmente no que se refere a investimentos. Segundo Sérgio Azevedo, sócio e diretor da Café Preto Filmes, o cinema nacional vinha em uma crescente, com participações nos maiores festivais de cinema no mundo inteiro, como Berlim, Cannes e até mesmo o Oscar, porém, o crescimento desta indústria está sendo interrompido desde 2019. “Acho que o atual descaso é ideológico e político, com liderança de pessoas frustradas consigo mesmas. Num geral, o descaso vem de ainda não entender a potência que é o cinema e o audiovisual como indústria, coisa que os outros países já entenderam faz tempo, mas o Brasil parece estar sempre na contramão do mundo”, reclama.

Sentimento compartilhado por Ricardo Weschenfelder, professor universitário e também cineasta. “Este governo trata os artistas e a cultura como inimigos. O cinema brasileiro ainda é dependente de incentivos públicos para produzir e distribuir filmes, do governo ou das grandes estatais. O cinema brasileiro, como todas as linguagens e manifestações artísticas, deveria ser tratado como prioridade, como formação da nossa identidade e cultura”.

Para eles, ainda há um certo preconceito do povo brasileiro em assistir filmes do seu próprio país. De acordo com Azevedo, uma parte dessa culpa é o espaço que os filmes brasileiros têm nas salas de cinema. Ele aponta uma “competição” desleal com produções americanas, que ganham exclusividade por vezes em duas salas com todos os horários em um mesmo dia. “Precisamos criar a cultura do cinema nacional desde a infância, com a rica filmografia do cinema infantil que temos no Brasil. Precisamos querer nos ver na tela, ver a nossa cultura na tela, nos reconhecermos no mundo. Ou então seremos sempre doutrinados pela cultura de outro país. Isso não quer dizer que devemos parar de assistir filmes americanos, mas sim preferir os nossos, dar valor ao que é feito aqui”.

O diretor da Café Preto cita a França como exemplo a ser seguido e diz que foi no país europeu que a sétima arte de fato começou. Já Weschenfelder também lembra que Espanha, Portugal, Coréia do Sul e Argentina adotam políticas de incentivo público ao cinema como política de estado. Ele aponta alternativas para o fortalecimento do cinema nacional. “Nossa referência cultural é a norte-americana, na música, nos filmes, nas séries, nos games, nas roupas. As pessoas consomem pouca cultura, isso é fato. Cultura é caro, livro é caro, ingresso de cinema é caro, teatro é caro. Por isso é fundamental ter uma política pública de acesso à cultura, desde cedo, desde criança. Formar e respeitar a nossa identidade e cultura e possibilitar o acesso”.

Embora a sétima arte no país atravesse tantos problemas na questão de investimentos, alguns filmes vêm ganhando destaque internacional nos últimos anos. Casos de “Bacurau” e “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho e "Vida Invisível" de Karin Aunou. Recentemente, o documentário “Democracia em Vertigem” foi indicado ao Oscar na categoria melhor documentário. Ao longo da história, outros filmes como “Cidade de Deus”, “O Que é Isso, Companheiro?”, “O Quatrilho”, "Central do Brasil" e “O Pagador de Promessas” também foram indicados e concorreram à maior premiação do cinema no mundo.


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