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Era uma vez...

Sons, palavras e imaginação: a arte de contar histórias de Emiliano

Professor de Guabiruba utiliza a narrativa oral aliada a recursos visuais e sonoros para contar histórias há 10 anos

Publicado em 19/03/2019 às 01:54

Ouvintes atentos a cada história contada por Emiliano (Foto: Arquivo Pessoal)

Apresentações do professor Emiliano contam sempre com elementos sonoros e visuais aliados à narrativa oral (Foto: Arquivo Pessoal)

O livro “O barquinho amarelo”, de Iêda Dias da Silva, ajudou muitas crianças a se alfabetizarem por meio de histórias lúdicas apresentadas em texto e com imagens pintadas em aquarela. Muitos adultos de hoje se lembram com carinho de contos como “A piabinha dourada” e “Bolhas de sabão” e outras histórias dos personagens Marcelo, Rosinha e Marquinho narradas no pequeno livreto, lançado nos anos 1970.

Uma dessas crianças, hoje um adulto crescido, foi tão tocada pelo universo encantador das fábulas do livro e de tantas outras que, anos mais tarde, começou ele mesmo a utilizar as palavras, as imagens e os sons para fazer com que crianças, adolescentes e até mesmo adultos pudessem se encantar com o mundo das histórias.



O contador de histórias

As palavras acompanham a vida do professor Emiliano Daniel de Souza desde o tempo do “O barquinho...”. Encantado pelo mundo das histórias desde a infância, quando também se interessava bastante pelos contos dos Irmãos Grimm, de Andersen e Perrault, o caminho para trabalhar com as narrativas era algo muito natural.

Além da formação em letras, há 10 anos uma experiência em um curso na capital acabou transformando a maneira como o professor Emiliano via a possibilidade de trabalhar com as narrativas e consequentemente sua vida.

“Começou em 2009, quando participei de um curso sobre narração de histórias em Florianópolis. Logo em seguida fui convidado pelo SESC de Brusque a participar de uma mostra literária. Foi aí que comecei a pôr em prática a arte de contar histórias”, explica.

A inspiração para a contação de histórias surgia em diversas fontes. Além dos livros, das próprias narrativas e seus personagens, a reação daqueles que ouviam as fábulas também motivavam o professor. Para o professor, as inúmeras possibilidades de se contar uma história também despertava muito interesse em continuar o trabalho.

“Ao participar de cursos e oficinas na área de contação de histórias, pude perceber a diversidade de formas de narrar. Alguns se utilizam de recursos visuais, outros sonoros, alguns calcam sua arte apenas na palavra (oralidade) sem a utilização de qualquer recurso cênico. São muitas as formas de narrar. Cada um vai encontrando a sua, de acordo com as habilidades que deseja usar no momento da narração. Tudo isso me inspirou, pois pude enxergar o oceano de possibilidades contidas nessa fascinante arte, que é ao mesmo tempo milenar e contemporânea”, conta.

 

 

As primeiras apresentações

O professor começou a usar, além da oralidade, outros elementos na hora de contar histórias. O método diferente, com música e imagens, agradou ao público. Emiliano se lembra do fascínio despertado nos espectadores nas suas primeiras apresentações.

“Lembro-me com encanto das crianças e da professora. Suas expressões faciais, suas reações ao que acontecia durante as histórias, sua alegria ao acompanhar as canções executadas ao som do violão. É maravilhoso pensar que podemos visualizar uma história a partir das palavras que ouvimos. A projeção se dá a partir da imaginação de cada ouvinte”, relembra.

Outra ocasião que marcou a memória do professor foi quando ele, ao contar histórias para adolescentes, foi depois indagado sob variados aspectos da narrativa que havia sido apresentada.

“Outra ocasião que me chamou a atenção foi num dia em que contei histórias para adolescentes. Eram histórias mais reflexivas e poéticas. Eles ficaram calados durante toda a apresentação. Assim que terminou o espetáculo, formularam várias perguntas e comentários interessantes sobre as histórias que tinham ouvido. Foi aí que notei o quanto as histórias dialogam com as narrativas de vida de cada um”, se recorda.

Emiliano Daniel de Souza, professor e contador de histórias

A inspiração

Os livros, as narrativas, a trajetória dos personagens, a reação dos ouvintes (crianças, adolescentes e adultos) me inspiraram profundamente. Na mesma proporção, fui inspirado por artistas que contam histórias utilizando-se de outras formas, como bonequeiros e manipuladores de fantoches. Ao participar de cursos e oficinas na área de contação de histórias, pude perceber a diversidade de formas de narrar. Alguns se utilizam de recursos visuais, outros sonoros, alguns calcam sua arte apenas na palavra (oralidade) sem a utilização de qualquer recurso cênico. São muitas as formas de narrar. Cada um vai encontrando a sua, de acordo com as habilidades que deseja usar no momento da narração. Tudo isso me inspirou, pois pude enxergar o oceano de possibilidades contidas nessa fascinante arte, que é ao mesmo tempo milenar e contemporânea.

Emiliano Daniel de Souza, professor e contador de histórias

 

 

As apresentações

O professor revela que o processo de construção de uma apresentação requer muita paciência e criatividade. Depois de escolher uma temática, Emiliano pesquisa quais histórias, que pode ter diferentes fontes e personagens, para pensar em como conta-las, pensando inclusive em recursos sonoros e visuais que podem ser utilizados.

“Parte do processo também é pesquisar para ver se há outras versões das mesmas histórias. Por exemplo, é comum encontrar histórias africanas ou europeias que são narradas em roupagem ou contexto brasileiro. Depois de selecionar as histórias, procuro aprendê-las. Ao mesmo tempo, penso em recursos visuais e sonoros que podem ajudar a dar corpo às histórias. É um processo demorado e ao mesmo tempo um exercício de paciência e de criatividade. Acho gratificante”, destaca Emiliano, que revela que no futuro poderá passar a contar histórias locais.

A questão dos diferentes públicos que ouvem as histórias acaba por moldar a forma como as apresentações são pensadas. Apesar disso, existem algumas histórias, como "O homem que enxergava a morte", "O homem sem sorte", "O sanduíche da galinha maricota" e "O pequenino grão de areia" são bastante utilizadas.

 

 

Apoio à contação de histórias

O professor, que também coordena os projetos sociais “Biblioteca Ambulante” e “Feliz Idade” na Unifebe, e participa do grupo “Alemão em Canto” em Guabiruba, ressalta que tem trabalhado em colaboração com diversas cidades, principalmente na capacitação de professores para o trabalho com narrativas. Emiliano destaca também o apoio do SESC e o interesse de várias escolas em contar com o projeto de contação de histórias em eventos de cunho literário.

“No momento tenho firmado parcerias com prefeituras de vários municípios, envolvendo principalmente oficinas de contação de histórias para professores. Além disso, o SESC tem sido um grande apoiador. Eles chamam contadores de histórias para compor a programação cultural em feiras de livros e outros eventos voltados à cultura e literatura. Ocorre, também, que as próprias direções de escolas têm chamado para realizar contações de histórias. Frequentemente isso acontece para incrementar alguma programação do calendário escolar ou para encorpar algum projeto literário que esteja sendo realizado pelas crianças”, salienta.

 

 

Ensinamentos para a vida

Além do aspecto cultural de se ouvir boas histórias, elas podem trazer lições para toda a vida. Para Emiliano, além do incentivo à leitura, as crianças e adolescentes podem aprender muitos valores através das narrativas.

“As histórias têm bastante poder. Elas podem ajudar a educar, a transformar vidas e atitudes. Podem ensinar valores e virtudes humanas. Além disso, favorecem o contato com literatura de qualidade, proporcionando um momento cultural e enriquecedor. Vale lembrar ainda que a contação de histórias também contribui para a formação de novos leitores. Outro ponto importante é que valoriza o livro como fonte de conhecimento e entretenimento, pois muitas vezes desperta o gosto e o apreço pelas palavras escritas com arte”, afirma.

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