O livro “O barquinho amarelo”, de Iêda Dias da Silva, ajudou muitas
crianças a se alfabetizarem por meio de histórias lúdicas apresentadas em texto
e com imagens pintadas em aquarela. Muitos adultos de hoje se lembram com
carinho de contos como “A piabinha
dourada” e “Bolhas de sabão” e
outras histórias dos personagens Marcelo, Rosinha e Marquinho narradas no
pequeno livreto, lançado nos anos 1970.
Uma dessas crianças, hoje um adulto crescido, foi tão tocada pelo universo encantador das fábulas do livro e de tantas outras que, anos mais tarde, começou ele mesmo a utilizar as palavras, as imagens e os sons para fazer com que crianças, adolescentes e até mesmo adultos pudessem se encantar com o mundo das histórias.
O
contador de histórias
As palavras acompanham a vida
do professor Emiliano Daniel de Souza desde o tempo do “O barquinho...”. Encantado pelo mundo das histórias desde a infância,
quando também se interessava bastante pelos contos dos Irmãos Grimm, de
Andersen e Perrault, o caminho para trabalhar com as narrativas era algo muito
natural.
Além da formação em letras, há
10 anos uma experiência em um curso na capital acabou transformando a maneira
como o professor Emiliano via a possibilidade de trabalhar com as narrativas e
consequentemente sua vida.
“Começou em 2009, quando
participei de um curso sobre narração de histórias em Florianópolis. Logo em
seguida fui convidado pelo SESC de Brusque a participar de uma mostra
literária. Foi aí que comecei a pôr em prática a arte de contar histórias”,
explica.
A inspiração para a contação
de histórias surgia em diversas fontes. Além dos livros, das próprias narrativas
e seus personagens, a reação daqueles que ouviam as fábulas também motivavam o
professor. Para o professor, as inúmeras possibilidades de se contar uma
história também despertava muito interesse em continuar o trabalho.
“Ao participar de cursos e
oficinas na área de contação de histórias, pude perceber a diversidade de
formas de narrar. Alguns se utilizam de recursos visuais, outros sonoros,
alguns calcam sua arte apenas na palavra (oralidade) sem a utilização de
qualquer recurso cênico. São muitas as formas de narrar. Cada um vai
encontrando a sua, de acordo com as habilidades que deseja usar no momento da
narração. Tudo isso me inspirou, pois pude enxergar o oceano de possibilidades
contidas nessa fascinante arte, que é ao mesmo tempo milenar e contemporânea”,
conta.
As
primeiras apresentações
O professor começou a usar,
além da oralidade, outros elementos na hora de contar histórias. O método diferente,
com música e imagens, agradou ao público. Emiliano se lembra do fascínio
despertado nos espectadores nas suas primeiras apresentações.
“Lembro-me com encanto das
crianças e da professora. Suas expressões faciais, suas reações ao que
acontecia durante as histórias, sua alegria ao acompanhar as canções executadas
ao som do violão. É maravilhoso pensar que podemos visualizar uma história a
partir das palavras que ouvimos. A projeção se dá a partir da imaginação de
cada ouvinte”, relembra.
Outra ocasião que marcou a
memória do professor foi quando ele, ao contar histórias para adolescentes, foi
depois indagado sob variados aspectos da narrativa que havia sido apresentada.
“Outra ocasião que me chamou a
atenção foi num dia em que contei histórias para adolescentes. Eram histórias
mais reflexivas e poéticas. Eles ficaram calados durante toda a apresentação.
Assim que terminou o espetáculo, formularam várias perguntas e comentários
interessantes sobre as histórias que tinham ouvido. Foi aí que notei o quanto
as histórias dialogam com as narrativas de vida de cada um”, se recorda.
As
apresentações
O professor revela que o
processo de construção de uma apresentação requer muita paciência e criatividade.
Depois de escolher uma temática, Emiliano pesquisa quais histórias, que pode
ter diferentes fontes e personagens, para pensar em como conta-las, pensando
inclusive em recursos sonoros e visuais que podem ser utilizados.
“Parte do processo também é
pesquisar para ver se há outras versões das mesmas histórias. Por exemplo, é
comum encontrar histórias africanas ou europeias que são narradas em roupagem
ou contexto brasileiro. Depois de selecionar as histórias, procuro aprendê-las.
Ao mesmo tempo, penso em recursos visuais e sonoros que podem ajudar a dar
corpo às histórias. É um processo demorado e ao mesmo tempo um exercício de
paciência e de criatividade. Acho gratificante”, destaca Emiliano, que revela
que no futuro poderá passar a contar histórias locais.
A questão dos diferentes
públicos que ouvem as histórias acaba por moldar a forma como as apresentações
são pensadas. Apesar disso, existem algumas histórias, como "O homem que enxergava a morte",
"O homem sem sorte", "O sanduíche da galinha maricota"
e "O pequenino grão de areia" são
bastante utilizadas.
Apoio
à contação de histórias
O professor, que também coordena
os projetos sociais “Biblioteca Ambulante” e “Feliz Idade” na Unifebe, e
participa do grupo “Alemão em Canto” em Guabiruba, ressalta que tem trabalhado
em colaboração com diversas cidades, principalmente na capacitação de
professores para o trabalho com narrativas. Emiliano destaca também o apoio do
SESC e o interesse de várias escolas em contar com o projeto de contação de
histórias em eventos de cunho literário.
“No momento tenho firmado
parcerias com prefeituras de vários municípios, envolvendo principalmente
oficinas de contação de histórias para professores. Além disso, o SESC tem sido
um grande apoiador. Eles chamam contadores de histórias para compor a
programação cultural em feiras de livros e outros eventos voltados à cultura e
literatura. Ocorre, também, que as próprias direções de escolas têm chamado
para realizar contações de histórias. Frequentemente isso acontece para
incrementar alguma programação do calendário escolar ou para encorpar algum
projeto literário que esteja sendo realizado pelas crianças”, salienta.
Ensinamentos
para a vida
Além do aspecto cultural de se
ouvir boas histórias, elas podem trazer lições para toda a vida. Para Emiliano,
além do incentivo à leitura, as crianças e adolescentes podem aprender muitos
valores através das narrativas.
“As histórias têm bastante
poder. Elas podem ajudar a educar, a transformar vidas e atitudes. Podem
ensinar valores e virtudes humanas. Além disso, favorecem o contato com
literatura de qualidade, proporcionando um momento cultural e enriquecedor.
Vale lembrar ainda que a contação de histórias também contribui para a formação
de novos leitores. Outro ponto importante é que valoriza o livro como fonte de
conhecimento e entretenimento, pois muitas vezes desperta o gosto e o apreço
pelas palavras escritas com arte”, afirma.